segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Romário, a gente te perdoa

Há um tempo vi a notícia de que Romário havia se filiado ao PSB. Engraçado, né? Calma, tem mais. No primeiro discurso, ele troca o nome do partido, chamando-o de... PSDB hahaha. Confundir um Partido Socialista Brasileiro com Partido da Social Democracia Brasileira soava absurdo para mim. Mas até que não, olha só esse lead: A menos de um ano das eleições, o PSB (Partido Socialista Brasileiro), peça decisiva no xadrez político de São Paulo, tem como meta no Estado aquilo que alguns de seus líderes definem reservadamente de "socialismo de resultados", mas que, na prática, pode ser traduzido como equilibrar-se entre o presidente Lula (PT) e o governador José Serra (PSDB). (Folha de São Paulo, 19/10/2009)

Ok, atribua minha indignação a um desconhecimento sobre o partido, mas, sei lá, isso é sinal de que certas palavras ainda significam alguma coisa para mim.

Ao som de: Piggies - Beatles

O que uns olhos têm que outros não têm?

Revi Todas as mulheres do mundo do Domingos Oliveira. Quando assisti me apaixonei logo nos primeiros 5 minutos. Infelizmente (o "felizmente" é só em alguns casos), minha memória tem o costume de apagar enredos e selecionar inutilidades (registros acadêmicos alheios, é um exemplo). A única vantagem é que consigo rir ou me emocionar ou me assustar com a mesma coisa diversas vezes hehehe. Enfim, havia me esquecido de como esse filme é otimista, mas com um quê de realidade bem forte. Por isso gostei tanto. Gosto de assistir ao homem errando e ao homem sabendo perdoar com classe. E em cima disso, o filme se faz tão bonito. Com um errar realmente arrependido e um perdoar que ao pesar o custo/benefício, pende para o segundo sem ressalva alguma, decidido. No contexto de Todas as mulheres do mundo, o erro e o perdão se unem para construir uma relação mais sincera que, provavelmente, não será para sempre, mas e daí? que dure o tempo que for, sendo real&verdadeira esse tempo foi muito bem compensado.

Ao som de: Reservations - Wilco

sábado, 10 de outubro de 2009

No direction home

“Modern Times” é um disco de temática quase antagônica, falando sobre sexo e morte. E também sobre amor. E também sobre um mundo que está se desintegrando na frente dos nossos olhos. Ou será tudo a mesma coisa? É um disco para se ouvir em um bar acompanhado de luzes que se misturam com a fumaça de cigarro num balé melancólico. Seu autor ousa relembrar que mesmo tendo vivido mais de seis décadas de vida, o mundo continua um lugar imperfeito, solitário e vazio. Mas o próprio, em entrevista ao jornal USA Today, atesta que não há nada de nostálgico no álbum. Nostalgia, quem diria, é objeto de culto muito mais juvenil. [...]
Dylan já não tem a necessidade de escrever que tinha quando era jovem. Segundo ele, na entrevista ao USA Today, chega uma hora em que é muito mais difícil encontrar uma finalidade para se fazer algo diferente. No entanto, ele sabe que talvez seja complicado para o ouvinte compreender não só a temática do disco, mas as canções como canções mesmo: “Cada canção significa o que você disser que significa. Ela te golpeia onde você pode sentir, e sentindo ela terá um significado para você. É um tipo de música que tem a finalidade de mexer com a pessoa, e para fazer isso ela tem que ter mexido comigo mesmo primeiramente”, explica.
É muito complexo dizer o que as pessoas precisam de verdade, seja música, filmes ou mesmo aparelhos domésticos. Se eu fosse moleque hoje em dia, provavelmente eu precisasse de Clash e Sex Pistols – ou quem sabe, Nirvana – mais do que Strokes, Killers ou Be Your Own Pet. Mais do que todos eles, na verdade, eu precisaria de Aldous Huxley, Lygia Telles e Shakespeare, mas essa é uma outra questão. O que realmente preocupa é limitar o que uma pessoa precisa, tenha ela 14, 36 ou 65 anos. Novamente recorro a Ana Maria Bahiana,
que escreveu:
“Eu, por mim, recomendo a qualquer um - de 16, 21, 30, 45, 55 anos - que, ao menos uma vez por semana, escute algo que jamais pensaria escutar. E, certamente, algo que fuja dos padrões daquilo que as gravadoras determinaram ser “apropriado” para sua faixa etária - um ouvinte de 16 anos tem tanto a se beneficiar com uma audição de A Nod Is as Good as a Wink, dos Faces, quanto um de 55 do disco do Kula Shaker. É um santo remédio, o equivalente a uma corrida no calçadão, uma hora de malhação, uma partida de basquete: o suficiente para manter os ouvidos flexíveis, o cérebro desentupido, o coração palpitante e prevenir a instalação - muitas vezes precoce - do reumatismo estupidificante do classic rock”.
Pense nisso. E ouça “Modern Times” com bastante atenção. Ele está falando deste tempo sombrio que estamos, todos, vivendo. Ele não precisa de você, afinal, ele é Bob Dylan. Mas talvez você precise dele mais do que qualquer outra coisa, e ainda não descobriu.


Nunca fui de ouvir Bob Dylan e por enquanto nem pretendo (talvez ouça Modern Times por curiosidade). Mas achei essa resenha do Marcelo Costa não só bonita como inspiradora. :)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ricks, me socorra

Que tal um filme com cenas dramáticas?


E música clássica?

E um texto poético que ora beira ao clichê ora ao ridículo mesmo?
Erinaldo não se mexe, apenas respira. O ar que lhe alimenta. Quer passar despercebido. Estar no mundo é tarefa para os que conseguiram crescer. Esquecer a mãe que ele nunca mais viu, aceitar a nova moradia, aceitar algum carinho.

Agora reune tudo isso e o resultado é: Quase o peso de um passarinho, um documentário da Tv Cultura, altamente premiado e supervalorizado. O objeto tratado é o índice absurdo de mortalidade infantil no sertão de Alagoas (em 1997, das mil crianças nascidas vivas, 147 morreram, um dos índices de mortalidade infantil mais altos do mundo - o "normal" seria a proporção de 10 crianças mortas a cada mil).
Leve né?
Então para que carregar um tema, que por si só traz uma densidade imensa, com instrumentais a la novela mexicana e um roteiro que se espremer, sai muita lágrima? Para mim, um filme sobrecarregado dessa maneira tem a intenção não só de expor uma problemática, como de emocionar o espectador, apelando para todo e qualquer tipo de sentimentalismo.

Esse foi um debate na sala de aula. Não sei se debates costumam acrescentar alguma coisa, mas definitivamente o de hoje só acrescentou besteiras ao meu ouvido. Um cidadão acredita que defender esse ponto de vista significa ser burguês que não quer enxergar uma vida além do shopping e que por criticar a trilha sonora, se quer preservar o monopólio da música clássica nas mãos da elite; outro acredita que o documentário errou em escolher como abordagem a visão de coitados do sertão - e não o são? Por mais que trabalhem, batalhem, retirem forças do além para tentar sobreviver, eles não tem o suficiente para comer, vêem seus filhos com 2, 3, 4 anos sem conseguir andar, engatinhar, falar. O fato de serem trabalhadores não o tiram da linha da miséria, são coitados sim e essa qualificação não é desmerecedora, ela é um indicador de que algo, para variar, não funciona.
Essa discussão de tão ignorante me deixou exausta.

*

Pensa agora num professor de co-mu-ni-ca-ção que não faz questão nenhuma de ser inteligível e que apenas arrota Buñuel pra cá, Rosenfeld pra lá, mandando a definição de comunicação como o tornar comum para o espaço. Um professor de comunicação, especificamente de Jornalismo Digital, que em sua segunda aula nos mostra um cronograma em que reserva mais de dois meses para seminários e que mesmo se dizendo um dos seis-pesquisadores-do-Brasil-nessa-área, antagonicamente encarrega a nós a responsabilidade de dar sua aula - sem sermos pagos para isso, obviamente. Agora uma professora de comunicação, especificamente de te-le-jor-na-lis-mo que não acerta um plural, tem a língua presa e critica o Roda Viva em favor de Jornal Nacional.
E com doutorado nas costas. E ganhando em torno de 7 mil reais.

Aiai to desolada hoje.