quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Spice up your life ;)

Ah esse bombardeio de listas de álbuns, músicas, filmes, fatos da década somado às listas tradicionais de fim de ano me deixaram com preguiça de fazer a minha própria. Há uma possibilidade de num momento aleatório eu criar alguma com categorias ainda mais aleatórias, mas por enquanto vou deixar o verão pra mais tarde mesmo...
O último post do ano vai ser essa foto do meu super cofrinho onde guardei minha primeira economia pra Argentina eee :)


É, ele está lacrado mesmo haha. Não confio muito em mim não.

Gosto de muitas coisas ao mesmo tempo e me confundo inteiro e fico todo enrolado correndo de um destino falido para outro até desistir. Assim é a noite, e é isso o que ela faz com você, eu não tenho nada a oferecer a ninguém, a não ser minha própria confusão.

Adios :)

Ao som de: Funny litte frog - Belle and Sebastian

domingo, 27 de dezembro de 2009

Better, better, better

Um amigo meu escreveu que este é o momento em que nos encontramos num vácuo temporal - não estamos em 2010 ainda, mas parece que 2009 já acabou. Percebemos as pessoas mais reflexivas (ou só cansadas, ou talvez bêbadas com tantas festas...), pensando no que conquistaram, nas merdas que fizeram, em resoluções pro ano que se aproxima.
2000inove (nossa, esse foi um dos piores jogos de palavras da história - só uma rápida digressão) foi muito maluco pra mim, deixei de ser virgem em várias coisas, cagadas das mais homéricas reservei pra esse ano, beirei o alcoolismo. Nunca tantas coisas ruins aconteceram num só período de 12 meses e, ao mesmo tempo, eu tive a oportunidade de assistir a dona da voz e da franja mais lindas (ai aquele 18 de julho...), pude constatar pessoalmente como o Thom Yorke é baixinho, ouvi o Amarante cantando em francês, conheci Curitiba e o Fitzgerald e o Domingos Oliveira.

Revendo minha listinha de fim de ano de 2008, vi que consegui a maioria dos itens, mas não com louvor. Li mais livros, revistas e jornais, mas preciso ler ainda mais, principalmente jornais; emagreci um pouco, mas continuo gordinha tensa; anotei filmes que assisti, mas a lista ficou uma bagunça, preciso melhorá-la; saí mais com o blow e porradinha, mas queria ter saído mais. Posso ticar o não estressar em trabalhos, o fazer outra língua e pensar no tcc. Oba :D

A resolução pra 2010 é tudo que não cumpri satisfatoriamente em 2009. Fora isso, quero:
1. Guardar dinheiro pra viagens (por enquanto, Rio de Janeiro e Argentina, e se o dinheiro der, dar uma voltinha pela América do Sul)
2. Procurar um estágio
3. Tentar uns freelas
4. Ler On the road (terminar), Na natureza selvagem e Lavoura Arcaica porque sinto que mudarão minha vida
5. Me sacrificar pra ir a shows bons (eles são capazes de salvar seu ano, fica a dica)

Lista de presentes
Já passou o natal, eu não tive tempo de postar aqui uma wish list, mas tudo bem, sou uma pessoa legal pra caramba, sei que mereço tudo isso em qualquer época do ano ihihi

1. Os livros que falei ali em cima
2. Biografia dos Beatles
3. Manhattan em dvd original
4. Um monte de dvd e cd virgem
5. Um adesivo de jornalismo unesp (de preferência de 2007 - raridade)
Roupas e sapatos eu nem coloco aqui porque é o que eu quero sempre, mas ninguém nunca acerta.

Hoje, como eu estou estranhamente otimista, vou desejar e acreditar num ano novo bem feliz pra todos nós!
E um pouco de Beatles bonitinhos na voz do Paul - Getting Better.
....
Eu ia postar o vídeo, mas sabe-se la pq não consegui. Bom, o youtube está ao alcance de todos hehe

sábado, 28 de novembro de 2009

Onde andarás

Onde andarás nesta tarde vazia
Tão clara e sem fim
Enquanto o mar bate azul em Ipanema
Em que bar, em que cinema te esqueces de mim
Enquanto o mar bate azul em Ipanema
Em que bar, em que cinema te esqueces…
Eu sei, meu endereço apagaste do teu coração
A cigarra do apartamento
O chão de cimento existem em vão
Não serve pra nada a escada, o elevador
Já não serve pra nada a janela
A cortina amarela, perdi meu amor
E é por isso que eu saio pra rua
Sem saber pra quê
Na esperança talvez de que o acaso
Por mero descaso me leve a você
Na esperança talvez de que o acaso
Por mero descaso
Me leve… eu sei

Não, eu não estou antecipando meu voto

Chegando hoje de madrugada em casa com a minha amiga, meio bêbadas, abri o jornal e lembrei que dali a 6 horas, a pré candidata a presidência Marina Silva viria até Bauru para dar um parecer sobre sua plataforma política. Meio bêbadas, repito, decidimos ir. Dormiríamos poucas horas, acordaríamos cedo num raro sábado de manhã em que não temos aula para assistir à candidata do PV.
Parece meio improvável, né?
Acordei de manhã, estava chovendo. Tudo parecia dizer que nada ia dar certo. Mas, respirei aliviada ao ouvir baurulhos da coleguinha "Ela acordou!".
Bom, resumindo, descobrimos que outra amiga ia, nos encontramos e fomos, com aquela cara de bunda, pro local.

Marina Silva atrasou bastante, problemas no vôo. Quando chegou, foi aplaudida de pé por boa parte da platéia. Eu e minha amiga batemos palmas, como um sinal de educação, mas não levantamos, afinal estávamos ali para ver qualé a da ex ministra do meio ambiente.
Sua campanha é conhecida, o famoso desenvolvimento sustentável. Logo no começo, Marina já foi falando que pensar em desenvolvimento sustentável não é limitar-se a questões ambientalistas, mas pensar em um novo modo de viver. Sustentabilidade é uma bandeira não só ambiental, como econômica, social, cultural, estética, política. E durante o discurso, a senadora explanou sobre cada uma dessas especificações, mostrando-se bastante culta e informada.
Reivindicar a sustentabilidade ambiental não significa ver a natureza como um objeto de observação, ela está ali também para servir ao homem. O problema não está em usufruir dos seus recursos naturais, mas a maneira como se tem feito.
Sobre sustentabilidade cultural, a ex ministra defende a singularidade brasileira, propõe um desenvolvimento que não destrua as raízes e que fuja de reproduções de culturas dominantes.
No que tange à sustentabilidade estética, beleza pressupõe o olhar de quem vê, afirma Marina, que, para ilustrar, usa até um exemplo pessoal, na maior descontração. Uma lição que aprendeu com seu mestre Chico Mendes é que as coisas para serem preservadas, admiradas, respeitadas não tem de ter um valor comercial.
Quanto à sustentabilidade política, a senadora é enfática ao dizer que todos são sujeitos e que os representantes eleitos não estão ali para substituirem os representados. É necessária uma comoção social.
Para falar de sustentabilidade ética, Marina Silva parafraseia Joseph Campbell, a única certeza é a morte, mas a vida vence a morte pelos sucessivos renascimentos, esses que se dão pela ética. Por isso, é preciso um compromisso ético.
E ao mencionar a palavra compromisso, a pré candidata faz um gancho que emocionou muitos que ali compareceram. Ela cita uma filósofa (que infelizmente não me lembro o nome agora) que acredita que o ser humano não sabe lidar com duas coisas: uma é a irreversibilidade (que vou escrever sobre isso um outro dia) e a outra é a imprevisibilidade.
Só o compromisso é capaz de romper a temida imprevisibilidade, por isso o comprometimento tem (ou devia ter) um significado muito importante para toda a humanidade. Por acreditar no poder de uma promessa sincera, Marina Silva diz que a julgaram demasiada quixotesca, mas ela contra argumentou dizendo que se fosse pragmática, se não tivesse sonhos, aonde a analfabeta que era aos 16 anos e que contraíra, por diversas vezes, malárias e hepatites e outras doenças iria chegar?

Os aplausos foram demorados, mas não havia como ser de outra forma. E dessa vez, todos estavam de pé, inclusive a gente :)

Bom, isso não quer dizer que daqui pra frente será "Marina Silva para presidente", mas foi legal conhecer um pouco mais da sua campanha.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Overdose de Billie Holiday

Já me disseram que ninguém era capaz de cantar as palavras ‘fome’ ou ‘amor’ como eu. Talvez porque nunca pude esquecer o que estas palavras significam. Todos os Cadillacs e casacos de pele do mundo, e tive alguns, não chegam a compensar o que sofri, ou me levar a esquecer. Tudo o que aprendi em todos aqueles lugares e com todas aquelas pessoas está resumido nestas duas palavras. Você precisa ter um pouco de comida e um pouco de amor em sua vida antes de ser obrigada a se perfilar e ouvir um maldito sermão sobre como deve se comportar.

domingo, 22 de novembro de 2009

Our love is all we have

O que a gente já esperava de um filme dirigido pelo Kaufman se concretiza, Sinédoque, Nova York é uma confusão mesmo. Mas eu nem vim falar sobre ele porque mal consegui acompanhá-lo por inteiro. Vim transcrever alguns fragmentos bem interessantes - e como sempre vou estragar a surpresa de quem ainda quer assistir, ou seja, pode parar por aqui se for um deles.

1.
Tudo é mais complicado do que você pensa. Você vê apenas um décimo do que é verdade. Há um milhão de pequenos textos anexados a cada escolha que você faz. Você pode destruir sua vida cada vez que você escolher. Mas talvez você não saberá por 20 anos, e você talvez nunca, jamais localize a fonte. E você tem apenas uma chance para jogar isto fora. Basta tentar e descobrir seu próprio divórcio. E eles dizem que não existe destino, mas existe. É o que você cria. E mesmo que o mundo continue por eras e eras, você está aqui apenas por uma fração de uma fração de segundo. A maior parte do seu tempo é gasto sendo morto ou ainda não nascido. Mas enquanto está vivo, você espera em vão, desperdiçando anos, por um telefonema ou uma carta ou um olhar de alguém ou alguma coisa para fazer tudo certo. E isso nunca vem, ou parece vir, mas não vem realmente. Então você passa seu tempo em vago arrependimento ou vaga esperança de que alguma coisa boa virá adiante. Algo para fazer você se sentir conectado. Algo para fazer você se sentir inteiro. Algo para fazer você se sentir amado. E a verdade é... eu sinto tanta raiva! E a verdade é... eu sinto tanta porra de tristeza. E a verdade é... eu tenho me sentido tão magoado por muito tempo. E por muito tempo eu venho fingindo que estou bem, apenas para seguir adiante, apenas para... Eu não sei por quê. Talvez porquê ninguém queira ouvir sobre meu sofrimento porque eles tenham os seus próprios.
Foda-se todo mundo.
Amém.

2.
O que esteve antes com você, um excitante e misterioso futuro, está agora atrás de você, vivido, entendido, decepcionante. Você percebeu que não era especial. Você tem lutado em sua existência e agora está deslizando silenciosamente para fora dela. Esta é a experiência de cada um. (...) Ande. Como as pessoas que adoram você e param de lhe adorar, como se morressem, como se seguissem em frente, como se você as tirasse, como você tirou sua beleza, sua juventude. Como se o mundo esquecesse você, como se você identificasse sua transitoriedade, como se você começasse a perder suas características, uma por uma, como se aprendesse que não há ninguém olhando você - e nunca houve -, você pensa apenas em dirigir. Não vindo de lugar nenhum, não chegando em lugar nenhum, apenas dirigir.


domingo, 15 de novembro de 2009

Setembro

Envelhecer: - É um inferno ficar velha. Principalmente quando você se sente com 21. Toda a força que te segurou durante toda a vida simplesmente desaparece. Você estuda o rosto no espelho e percebe que tem alguma coisa faltando. E então você percebe que é o futuro.

Carência&Vaidade: - A verdade é que eu paquerei com Peter, eu queria que ele me quisesse, mas eu não achava que iria longe. Eu só queria saber que eu podia ser desejada. E ele pareceu um desafio. Ele é muito inteligente e está ocupado com o romance. E ele é charmoso e sabido e então aos poucos eu comecei a ver como ele era vulnerável e tão inseguro. E meu coração foi para ele.

Consequências: Eu não posso fazer esses joguinhos. Estou casada há muito tempo. Eu só... Eu não sei o que eu sou. Eu não sei o que fiz. Eu... eu não sou quem eu pensava que era.

E a coisa mais triste que já ouvi:
- Se você quisesse morrer mesmo, você teria feito isso da última vez.
- Estou tão só.
- Pare com isso, e me dê os comprimidos. Você quer mesmo morrer?

- Não. Esse é meu problema. Eu... eu sempre quis viver.




-Em poucos dias será setembro. (...) Tudo vai ficar bem.

Top Woody

Pra quem sentiu falta das minhas listas

1. Manhattan
2. Annie Hall
3. Zelig
4. Desconstruindo Harry
5. Hannah e suas irmãs/Poucas e boas/Setembro

Ao som de: Fine and mellow - Billie Holiday

sábado, 14 de novembro de 2009

dream dream a little dream of me

Say "nighty night" and kiss me
Just hold me tight and tell me you miss me
While I'm alone and blue as can be
Dream a little dream of me

Talvez a primeira matéria que escrevi esse ano...

Fiquei impressionada quando cheguei a essa conclusão: não me lembro de ter escrito alguma coisa pra faculdade, fora alguns textos pra disciplina de telejornalismo.
É, meu perfil ali do lado nunca foi tão sincero...

A incessante busca por heróis

“Há uma história maravilhosa sobre o deus da Identidade, que disse: ‘Eu sou’. E assim que disse ‘Eu sou’, teve medo”, conta Joseph Campbell em O Poder do Mito. Ocupar um lugar no tempo e no espaço não é meramente casual, o ser humano precisa ter consciência de quem ele é e de seu papel no mundo.
No entanto, a resposta não vem simples assim. Escolher um caminho é abdicar de todas as outras possibilidades, e fazer essa escolha é abrir as portas para eventuais equívocos e arrependimentos. Definir uma personalidade partindo do nada soa improvável, de acordo com a psicóloga e psicoterapeuta Helenice Azevedo, já que “o homem é um ser que vive por projeções. Na formação de sua personalidade bem como de sua identidade, ele busca modelos”. É nesse ponto que entram os ídolos, arrancados do patamar da humanidade para o altar. É na identificação que o homem firma sua própria identidade, daí a responsabilidade de quem é adorado.
Che Guevara, James Dean, Beatles, Jimi Hendrix. Uns determinaram comportamentos, outros foram reflexos de seu tempo, o fato é que não há como dissociar esses nomes de suas gerações, nem ignorar a influência destes ainda hoje. Segundo o sociólogo Luiz Fernando da Silva, “esses ídolos são referências na constituição das identidades individuais, à medida que se tornam parâmetros culturais”.
Integrantes da Rubber Soul, banda bauruense cover dos Beatles, Evandro de Souza (voz e violão) e Fábio Lima (voz, contrabaixo e teclado) acreditam que seus ídolos foram porta vozes da década de 60, “não havia uma trilha sonora mais adequada para o que acontecia no mundo naquele momento”, acredita Fábio. A influência não se restringe à carreira profissional, os dois músicos encontram a presença dos garotos de Liverpool também no âmbito pessoal, “certos aspectos da vida e da personalidade de John Lennon são por vezes similares aos aspectos de minha própria vida”, pontua Evandro.
Contudo é necessário ter cuidado com a idolatria. Não é raro um fã, cego para os defeitos de seu ídolo ou condescendente com atitudes questionáveis, tentar imitá-lo em todos os aspectos. O sociólogo Luiz Fernando é otimista, “as pessoas não são totalmente permeáveis por essas influências, uma vez que a vida cotidiana com as suas inúmeras contradições gera desafios que devem ser enfrentados com as ferramentas cognitivas e culturais que se desenvolvem nas experiências individuais e grupais acumuladas”. O resultado da influência só é bom quando, como num processo antropofágico, o influenciado é capaz de absorver o que há de melhor em seu ídolo para criar algo original e desenvolver sua personalidade.

Ao som de: Isn't this a lovely day? - Ella e Louis

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Dando uma satisfação boba

Como leitora assídua do meu blog que sou, enjoo de vários posts e dramas, por isso vezenquando eles somem daqui hehe

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Romário, a gente te perdoa

Há um tempo vi a notícia de que Romário havia se filiado ao PSB. Engraçado, né? Calma, tem mais. No primeiro discurso, ele troca o nome do partido, chamando-o de... PSDB hahaha. Confundir um Partido Socialista Brasileiro com Partido da Social Democracia Brasileira soava absurdo para mim. Mas até que não, olha só esse lead: A menos de um ano das eleições, o PSB (Partido Socialista Brasileiro), peça decisiva no xadrez político de São Paulo, tem como meta no Estado aquilo que alguns de seus líderes definem reservadamente de "socialismo de resultados", mas que, na prática, pode ser traduzido como equilibrar-se entre o presidente Lula (PT) e o governador José Serra (PSDB). (Folha de São Paulo, 19/10/2009)

Ok, atribua minha indignação a um desconhecimento sobre o partido, mas, sei lá, isso é sinal de que certas palavras ainda significam alguma coisa para mim.

Ao som de: Piggies - Beatles

O que uns olhos têm que outros não têm?

Revi Todas as mulheres do mundo do Domingos Oliveira. Quando assisti me apaixonei logo nos primeiros 5 minutos. Infelizmente (o "felizmente" é só em alguns casos), minha memória tem o costume de apagar enredos e selecionar inutilidades (registros acadêmicos alheios, é um exemplo). A única vantagem é que consigo rir ou me emocionar ou me assustar com a mesma coisa diversas vezes hehehe. Enfim, havia me esquecido de como esse filme é otimista, mas com um quê de realidade bem forte. Por isso gostei tanto. Gosto de assistir ao homem errando e ao homem sabendo perdoar com classe. E em cima disso, o filme se faz tão bonito. Com um errar realmente arrependido e um perdoar que ao pesar o custo/benefício, pende para o segundo sem ressalva alguma, decidido. No contexto de Todas as mulheres do mundo, o erro e o perdão se unem para construir uma relação mais sincera que, provavelmente, não será para sempre, mas e daí? que dure o tempo que for, sendo real&verdadeira esse tempo foi muito bem compensado.

Ao som de: Reservations - Wilco

sábado, 10 de outubro de 2009

No direction home

“Modern Times” é um disco de temática quase antagônica, falando sobre sexo e morte. E também sobre amor. E também sobre um mundo que está se desintegrando na frente dos nossos olhos. Ou será tudo a mesma coisa? É um disco para se ouvir em um bar acompanhado de luzes que se misturam com a fumaça de cigarro num balé melancólico. Seu autor ousa relembrar que mesmo tendo vivido mais de seis décadas de vida, o mundo continua um lugar imperfeito, solitário e vazio. Mas o próprio, em entrevista ao jornal USA Today, atesta que não há nada de nostálgico no álbum. Nostalgia, quem diria, é objeto de culto muito mais juvenil. [...]
Dylan já não tem a necessidade de escrever que tinha quando era jovem. Segundo ele, na entrevista ao USA Today, chega uma hora em que é muito mais difícil encontrar uma finalidade para se fazer algo diferente. No entanto, ele sabe que talvez seja complicado para o ouvinte compreender não só a temática do disco, mas as canções como canções mesmo: “Cada canção significa o que você disser que significa. Ela te golpeia onde você pode sentir, e sentindo ela terá um significado para você. É um tipo de música que tem a finalidade de mexer com a pessoa, e para fazer isso ela tem que ter mexido comigo mesmo primeiramente”, explica.
É muito complexo dizer o que as pessoas precisam de verdade, seja música, filmes ou mesmo aparelhos domésticos. Se eu fosse moleque hoje em dia, provavelmente eu precisasse de Clash e Sex Pistols – ou quem sabe, Nirvana – mais do que Strokes, Killers ou Be Your Own Pet. Mais do que todos eles, na verdade, eu precisaria de Aldous Huxley, Lygia Telles e Shakespeare, mas essa é uma outra questão. O que realmente preocupa é limitar o que uma pessoa precisa, tenha ela 14, 36 ou 65 anos. Novamente recorro a Ana Maria Bahiana,
que escreveu:
“Eu, por mim, recomendo a qualquer um - de 16, 21, 30, 45, 55 anos - que, ao menos uma vez por semana, escute algo que jamais pensaria escutar. E, certamente, algo que fuja dos padrões daquilo que as gravadoras determinaram ser “apropriado” para sua faixa etária - um ouvinte de 16 anos tem tanto a se beneficiar com uma audição de A Nod Is as Good as a Wink, dos Faces, quanto um de 55 do disco do Kula Shaker. É um santo remédio, o equivalente a uma corrida no calçadão, uma hora de malhação, uma partida de basquete: o suficiente para manter os ouvidos flexíveis, o cérebro desentupido, o coração palpitante e prevenir a instalação - muitas vezes precoce - do reumatismo estupidificante do classic rock”.
Pense nisso. E ouça “Modern Times” com bastante atenção. Ele está falando deste tempo sombrio que estamos, todos, vivendo. Ele não precisa de você, afinal, ele é Bob Dylan. Mas talvez você precise dele mais do que qualquer outra coisa, e ainda não descobriu.


Nunca fui de ouvir Bob Dylan e por enquanto nem pretendo (talvez ouça Modern Times por curiosidade). Mas achei essa resenha do Marcelo Costa não só bonita como inspiradora. :)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ricks, me socorra

Que tal um filme com cenas dramáticas?


E música clássica?

E um texto poético que ora beira ao clichê ora ao ridículo mesmo?
Erinaldo não se mexe, apenas respira. O ar que lhe alimenta. Quer passar despercebido. Estar no mundo é tarefa para os que conseguiram crescer. Esquecer a mãe que ele nunca mais viu, aceitar a nova moradia, aceitar algum carinho.

Agora reune tudo isso e o resultado é: Quase o peso de um passarinho, um documentário da Tv Cultura, altamente premiado e supervalorizado. O objeto tratado é o índice absurdo de mortalidade infantil no sertão de Alagoas (em 1997, das mil crianças nascidas vivas, 147 morreram, um dos índices de mortalidade infantil mais altos do mundo - o "normal" seria a proporção de 10 crianças mortas a cada mil).
Leve né?
Então para que carregar um tema, que por si só traz uma densidade imensa, com instrumentais a la novela mexicana e um roteiro que se espremer, sai muita lágrima? Para mim, um filme sobrecarregado dessa maneira tem a intenção não só de expor uma problemática, como de emocionar o espectador, apelando para todo e qualquer tipo de sentimentalismo.

Esse foi um debate na sala de aula. Não sei se debates costumam acrescentar alguma coisa, mas definitivamente o de hoje só acrescentou besteiras ao meu ouvido. Um cidadão acredita que defender esse ponto de vista significa ser burguês que não quer enxergar uma vida além do shopping e que por criticar a trilha sonora, se quer preservar o monopólio da música clássica nas mãos da elite; outro acredita que o documentário errou em escolher como abordagem a visão de coitados do sertão - e não o são? Por mais que trabalhem, batalhem, retirem forças do além para tentar sobreviver, eles não tem o suficiente para comer, vêem seus filhos com 2, 3, 4 anos sem conseguir andar, engatinhar, falar. O fato de serem trabalhadores não o tiram da linha da miséria, são coitados sim e essa qualificação não é desmerecedora, ela é um indicador de que algo, para variar, não funciona.
Essa discussão de tão ignorante me deixou exausta.

*

Pensa agora num professor de co-mu-ni-ca-ção que não faz questão nenhuma de ser inteligível e que apenas arrota Buñuel pra cá, Rosenfeld pra lá, mandando a definição de comunicação como o tornar comum para o espaço. Um professor de comunicação, especificamente de Jornalismo Digital, que em sua segunda aula nos mostra um cronograma em que reserva mais de dois meses para seminários e que mesmo se dizendo um dos seis-pesquisadores-do-Brasil-nessa-área, antagonicamente encarrega a nós a responsabilidade de dar sua aula - sem sermos pagos para isso, obviamente. Agora uma professora de comunicação, especificamente de te-le-jor-na-lis-mo que não acerta um plural, tem a língua presa e critica o Roda Viva em favor de Jornal Nacional.
E com doutorado nas costas. E ganhando em torno de 7 mil reais.

Aiai to desolada hoje.

sábado, 26 de setembro de 2009

pra não perder mais

É bem difícil achar posts no blog do Domingos Oliveira, não tem tags, não tem nenhuma divisão por tempo, nem nada. Eis a razão deste post: quando eu precisar desse trecho, basta eu recorrer a mim mesmo hehe :)

Por que dói tanto quando o amor acaba? Por que é tão triste? Por que é inaceitável? Nenhum raciocínio ou vivência autorizou a crença de sua perenidade? Por que afinal nos dilaceramos? Ah, a dor do amor. É mais que uma angústia. É uma febre, uma desidratação. Poucas coisas são tão tristes quanto o fim de um grande amor. Talvez nem o fim da vida seja tão triste. E o que dói? Onde dói? Dói por não ser mais o que era. Dói por tudo que poderia ser, se ainda fosse, mas não será jamais. Dói a perda da paixão, única moeda cósmica que temos a nossa disposição. Porém, acalmemos. Deve haver um motivo objetivo para tanta dor. Examinemos metodicamente uma a uma as perdas.
O que se perde quando é perdido um amor? Talvez a moeda cósmica? Não, não deve ser isso. Todos os homens sofrem separações e nem todos se importam com o cosmos.
A perda do objeto sexual? Também não deve ser isso. Há muitas Marias para cada João.
Qualquer coisa ligada a ciúme de terceiros? Mas há separações que não envolvem terceiros, nem por isso deixam de ser sofridas.
Tão pouco são razoáveis as explicações psicológicas, quebra da fantasia, falência de um investimento sentimental ou qualquer coisa desse tipo. Mas também não é isso. Homens maduros, estudiosos, que certamente ultrapassaram esse tipo de acontecimento psicológico também sofrem como cães envenenados.
Aprofundemos essa espiral.
Talvez o horror da solidão quando convivemos muito com a pessoa amada, perdemos totalmente a noção de como somos sós no mundo. Nossa íntima alegria ou dor é compartilhada, ganhamos um ouvinte interessado e perder isso, convenhamos, é perder muito.
Talvez o medo da liberdade, citando Dostoievski, meu caro companheiro desde a adolescência, “Não há nada que o homem deseje mais do que a liberdade, nem nada que lhe seja tão doloroso”.

(08/07/2009)

sábado, 12 de setembro de 2009

Meu lado direitista

Aiai eu perco a conta de quantas vezes ao dia eu falo "se tem uma coisa que me irrita é ____". Era bem assim que eu ia começar esse post, mas daria uma falsa impressão de que isso é uma das poucas coisas que me tira do sério. Enfim, uma coisa que me irrita é pessoas que acreditam na aplicação do socialismo na sétima arte. Discursos como "fazer cinema é fazer arte" quase me tiram o ar. Não dá, não dá para acabar com as classes e colocar todos os filmes no mesmo patamar. Me recuso a concordar com alguém que diz que Um morto muito louco é arte assim como Persona.
Há dois tipos de cinema, o cinema-produto e o cinema-arte. Existem filmes que visam o lucro e a abstração, e outros que visam o lucro e a qualidade. E isso sem querer desmerecer um em vista do outro, cada um atende àquilo que se propõe a ser. Um bom blockbuster merece seus créditos, assim como um filme cult ruim merece suas vaias.

Reforçando o começo do post, outra coisa que me enerva é gente que coloca, não só os filmes, como também os diretores no mesmo nível. A criatura discorre: "um diretor foda pode fazer um filme ruim, assim como um diretor iniciante pode fazer um filme maravilhoso, conclui-se que os dois competem igualmente". Quando Truffaut e sua trupe propoem o cinema de autor (quando o diretor participa de todas as etapas de seu filme e possui um estilo próprio e original) e afirmam que tudo que advém dessa personalidade é bom, há de se questionar se esse é o único critério a ser levado em consideração na hora de fazer uma análise crítica. Não concordo que se o filme é de tal diretor ele necessariametne vai ser bom, mas se o cara já provou por A+B no conjunto de suas obras que é um gênio, é natural esperarmos mais dele do que dos demais, é natural afirmarmos que seus piores filmes ainda são melhores do que 80% do que é produzido, já que anualmente se produz muita merda. De novo: não que eu concorde com essa radicalidade proposta pela nouvelle vague, mas é necessário firmar e admitir que existe sim um diferencial.

domingo, 16 de agosto de 2009

1,66

- Seduzir uma mulher - disse Bertlef descontente - está ao alcance do primeiro imbecil. Mas também é preciso saber romper; é nisso que se reconhece um homem maduro. Kundera.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

E ao coração que teima em bater...


Apenas o fim (de Matheus Souza) é um filme bastante simpático, a começar pelo cartaz ali em cima - que bonitinho! A história é mais ou menos assim: a namorada de Antonio decide ir embora e por isso deve terminar o namoro. O término se daria em somente uma hora - esse foi o tempo que ela reservou para falarem sobre qualquer coisa que tenha relevância ou não, antes de partir. A conversa, que acontece na faculdade, é intercalada com flashbacks em preto e branco em que o casal está numa cama discutindo sobre os mais variados assuntos.
O filme vale a pena pelas boas risadas que o indiezinho, dono de sacadas inteligentes, garante. A namorada é muito chata, para ser bastante direta. Ela se configura no clichê em pessoa, aquele mesmo, que sobe em murinhos e brinca de se equilibrar - da maneira sexy&infantil - e diz frases como "eu quero mudar o mundo" - toin. Pensei: putz esse cara tão legal se deixou enganar por essa bobona só porque ela é bonita. Mas, continuando...
O que eu mais gostei no filme é do que o título já adianta: o fim é aquilo ali, não vai ser necessariamente grandioso, o mundo não vai parar porque você está triste, a tia da cantina não dá a mínima se você perdeu o amor da sua vida. Uma pessoa escreveu uma vez um negócio que gostei bastante: Fiquei ali muito tempo, esperando o bote salva-vidas ou algum remo que me resgatasse. Dessas tragédias tão cotidianamente pequenas, que não diminuem o brilho do céu, muito menos impedem que as luzes dos televisores se apaguem nas salas de famílias também infelizes, os pequenos naufrágios que não se tornam manchetes nem estampam foto na primeira página – tudo isto passava pela minha cabeça: que o tempo não ancora em porto algum, e até mesmo os navios mais bem construídos perecem.
Antonio pede para deixá-lo ao menos ficar ali, sentadinho, vendo-a partir. E os carros na rua continuam se passando...


I don't wanna waste your time,
I don't wanna waste your time.
I just wanna say -I've got to say,
We worked hard, darling
We don't have no control
We're under control
I don't wanna do it your way,
I don't wanna do it your way.
I don't wanna give it to you, your way,
I don't wanna to know...
I don't wanna change your mind,
I don't wanna change the world.
I just wanna watch you go by.
I just wanna watch you go by.
We were young, darling
We don't have no control
We're out of control
I don't wanna do it your way,
I don't wanna do it your way.
I don't wanna give it to you, your way,
I don't wanna to know...
I don't wanna change your mind,
I don't wanna waste your time.
I just wanna know you're alright.
I've got know you're alright;
You are young, darling
For now, but not for long
Under control.
(Under Control - The Strokes)

Ao som de: Pois é - Los Hermanos

Afinidade de almas

Sobre Lotte:
Via-se unida para sempre a um homem de quem conhecia o amor e a fidelidade, a quem também amava de todo o coração, a um homem cujo caráter tão sólido e digno parecia ter sido criado pelo céu para garantir a felicidade de uma mulher honrada; sentia-se que ele seria sempre para ela e para os seus. De outro lado, Werther tinha-se-lhe tornado tão caro, a afinidade de suas almas se manifestara desde o primeiro momento! A convivência longa e frequente, os incontáveis momentos que compartilharam emoções tão diversas, deixaram marcas indeléveis em seu coração. Habituara-se a partilhar com ele todos os sentimentos, todos os pensamentos, e a sua partida pareceu abrir em toda a sua existência um vazio que nada poderia preencher.

Sobre Albert (marido de Lotte), por Werther:
Falta-lhe aquilo que faz com que nossos corações batam em certas passagens do livro favorito, em perfeita sintonia.

Com quantas pessoas teremos essa correspondência de emoções, essa conexão? Eu acho que o número oscila entre 0 ou 1.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

8 de agosto

Raramente as coisas neste mundo oferecem uma alternativa bem marcada; os próprios sentimentos e maneiras de agir apresentam nuances variadas como as gradações entre um nariz aquilino e um nariz chato. (...) Pode-se, acaso, exigir de um desgraçado, cuja vida se extingue pouco a pouco sob a ação surda e lenta, mas irresistível, da doença, que ponha termo imediatamente aos seus sofrimentos com um golpe de punhal? O mal que consome as suas forças não lhe retira ao mesmo tempo a coragem para se libertar dele? (...) Sim, Wilhelm, sinto, em certos momentos, a coragem de atirar fora o fardo que me esmaga e, bem... se eu soubesse para onde ir... iria imediatamente. Goethe.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Crying nobody knows, nobody knows my pain

Cat Power está (é) linda e triste, e aí confunde-se com a vida de quem a sabe ouvir. Nessa noite, tudo vai acabar com “Anjelitos negros” - triste como só pode ser triste uma música cantada pela Cat Power.
Depois, num bar do Leblon, Chan, quase sem voz, vai me dizer que não entende o Brasil. Eu vou responder com banalidades e enfim confessar que tampouco entendo como uma mulher tão bonita pode ter tanta solidão dentro de si. De madrugada, entre uma recaída de caipirinhas, ela vai dizer que não é nada disso, que não é solidão e sim algo que perdeu: “eu perdi alguma coisa dentro de mim há muito tempo e essa coisa é o que eu tento cantar”. Antes que eu pergunte o que é, ela vai responder: “eu não sei o que é”, e a noite terminará sob goles de suco de maça com abacaxi na outra esquina.



Enviado pelo pianista, guitarrista, xilofonista da minha banda.

You're not the angel that I once knew

O Globo Repórter de sexta passada tratou daquele assunto que todo mundo já está cansado de ouvir, de falar e de, infelizmente, sofrer: infidelidade. A reportagem foi basicamente o mais do mesmo. O que chamou minha atenção foi a história de uma jornalista norte americana que viajou pelo mundo para estudar esse problema universal. Uma das curiosidades que essa minha colega de profissão contou é que na Rússia a mulher pode começar a desconfiar do marido quando ele passa a cantar no chuveiro haha.
Ela fez uma comparação entre a traição aqui no Brasil e em seu país de origem e (por favor, façam cara de surpresa) ficou embasbacada com a trivialidade dessa atitude aqui - a infidelidade acontece em cada esquina e isso pode ser visto como triunfo ou promoção, em certos casos. Nos EUA, ela diz que é bem diferente, o traidor, na maioria das vezes, não conta nem ao melhor amigo (talvez por isso, lá, os detetivas particulares sejam mais requisitados; os brasileiros são alvos fáceis, deixam muitos rastros). A proporção é bem menor em relação ao Brasil, nas palavras dela: nos Estados Unidos quando duas pessoas se casam, a festa acabou; no Brasil, a festa continua. Também passou pela sua cabeça ir embora daqui? haha.
O engraçado é que, ainda que não seja tão comum nos EUA, o assunto é altamente explorado no cinema, por exemplo, o que nos induz a pensar justamente o contrário; e quando falo explorado é porque a infidelidade não está ali como mero pano de fundo ou assumindo um papel secundário. Não quero dizer que é uma exclusividade norte americana, claro que não, mas talvez toda essa abordagem seja exatamente porque essa realidade ainda é vista com grande estranhamento.
Um outro ponto que o Globo Reporter tocou é na nova maneira de traição: a virtual. No programa ainda havia uma discussão se uma relação cibernética é um ato de infidelidade (se é que podemos chamar aquilo de discussão já que não vi nenhuma pessoa na reportagem falando o contrário). É sim traição e é, sem dúvida, a mais patética. Não dá pra saber se sentimos raiva ou dó de uma pessoa assim porque apelar para internet quando se tem uma pessoa de verdade ao seu lado é digno de pena. Essa pessoa de verdade pode ser ruim, feia, burra, chata, mas ainda é de verdade (lembra das comidas chinesas?) e se não está satisfeito com ela, sugiro que termine e procure outra, que seja boa, bonita, inteligente e legal, mas principalmente real e palpável. Isso é mais bonito, ao meu ver.
Já ouvi diversas justificativas de traição, mas nenhuma como essa do livro do Kundera. Klima traiu (na verdade é bom por no gerúndio) sua esposa Kamila e está conversando com seu amigo neste trecho:
- Amo minha mulher. É meu segredo erótico que a maioria das pessoas acha inteiramente incompreensível.
Era uma confissão tão comovente que os dois homens fizeram um minuto de silêncio. (...)
- Alguma coisa me empurra a todo momento para uma outra mulher; no entanto, a partir do momento que a possuo, sou arrancado dela por uma poderosa mola que me lança para perto de Kamila. Algumas vezes, tenho a impressão de que, se procuro outras mulheres, é unicamente por causa dessa mola, desse impulso e desse vôo esplêndido (cheio de ternura, de desejo e de humildade) que me traz de volta para minha própria mulher, a quem amo cada vez mais depois de cada nova infidelidade.
- De modo que a enfermera Ruzena só foi para você a confirmação do seu amor monogâmico?
- Sim - disse o trompetista.


E o Wilco canta pra gente:
There are dreams we might have shared and
I still care and I still love you
But you know how
I've been untrue

Soa estranho?

Hum, nem tanto.

domingo, 2 de agosto de 2009

And the devil called him by name

Abandone Crime e Castigo de Dostoievski e dê a mão a Woody Allen em Crimes e Pecados. É para esse lado que pende A Valsa dos Adeuses de Milan Kundera. Imposições da sociedade, valores, altruísmo. Esqueça isso tudo. O escritor tcheco desnuda o homem desde o primeiro e curto capítulo testando o nível de moralidade do próprio leitor - que se muito intransigente, vai encontrar grande resistência durante a leitura.

Um erro pressupõe uma punição. Mas e se alguém comete um crime perfeito, ele vai sentir a famosa consciência com dentes conhecida como remorso? É isso que Kundera e Woody sugerem: o homem tem sim a ciência de sua atitude, mas se ninguém o julgar e culpar (ou seja, descobrí-lo), ele não sentirá o peso, a dor de ter enganado, roubado, matado. O remorso seria então apenas uma consequência da descoberta da verdade ou da possibilidade dessa descoberta - aquele rastro que passou despercebido pelo culpado desatento e que o persegue; e se não necessariamente a verdade vai ser evidenciada e esse culpado vai ser punido, ele pode conviver pacificamente com o seu erro. E o homem sem remorso é capaz de tudo.
Maniqueísmo e certo e errado a parte, o que sobraria do ser humano? Personagens desse livro possuem caráter condenável. Mas será que atribuir esse "condenável" ao "caráter" não é uma hipocrisia? É como se Kundera atribuísse aos seus personagens a essência do homem (aquele que não foi contaminado pelas normas sociais) sem tirá-lo da sociedade. E essa pessoa despida do mínimo de moralidade é essencial e brutalmente egoísta. O livro narra com toda naturalidade atitudes que condizem realmente com os nossos desejos mais obscuros - aqueles que são vergonhosos até para nós mesmos. Isso seria uma vida que não obedece a nenhuma referência de certo e errado. E essa vida, esse homem são abomináveis. Suportaríamos tamanha sinceridade, o homem sendo o que ele é sem nenhuma interferência e regra social?
Essa dura constatação e perda de esperança em relação ao ser humano pode ser resumida em Jakub, personagem que foi torturado e esteve diante de imensas atrocidades que a humanidade é capaz, mas que não pode se eximir dessa cruel humanidade que condena. Esse horror às pessoas pode ser explicitado neste trecho em que Jakub argumenta por que não quer ter filhos:
Ter um filho é manifestar um acordo absoluto com o homem. Se tenho um filho, é como se dissesse: nasci, apreciei a vida e constatei que ela é tão boa que merece ser repetida. (...) Sei apenas uma coisa - é que nunca poderei dizer com total convicção: o homem é um ser maravilhoso e quero reproduzí-lo.
O personagem que mais se opõe a Jakub é Bertlef (casado, mas que se apaixona e se envolve por uma noite com uma outra mulher). É dele a única voz otimista dentro do livro. Ele é extremamente religioso e pode-se tirar disso que talvez a fé - no que quer que seja - nos torne pessoas mais felizes, com um apreço maior pela vida que nos foi dada.
E esse menino cresceu e disse aos homens que basta uma coisa para que a vida valha a pena ser vivida: amarem-se uns aos outros. Herodes sem dúvida era mais instruído e mais experimentado. Jesus era certamente um inocente e não conhecia grandes coisas da vida. Todo o seu ensinamento só se aplica talvez pela sua juventude e sua inexperiência. Se você preferir, pela sua ingenuidade. E, no entanto, ele possuía a verdade. (Trecho em que Bertlef discute com Jakub - lembrei da Tracy, Manhattan).

Diante de tudo que Kundera nos apresenta no livro, esse discurso de Bertlef parece inatingível. E talvez seja porque nem mesmo o amor escapa das misérias do ser humano.
Mas... não resta outra saída senão continuar caminhando even when it's cold and there's no music.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Hold on

how??

But it's so hard to dance that way
When it's cold and there's no music

sábado, 25 de julho de 2009

Hapiness is a warm gun

When I hold you in my arms
And I feel my finger on your trigger
I know nobody can do me no harm
Happiness is a warm gun

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Metal heart you're not worth a thing

Quando voltei a Bauru, fui atrás do áudio do show da Cat Power em São Paulo. Achei alguns vídeos do youtube e pus pra ouvir. De repente, lá estava eu chorando mais uma vez com as músicas entrando em mim, fincando suas palavras e melodias com uma força enorme. Eu sozinha de noite numa cidade vazia cheia de lembranças. Deve ser por isso, pensei eu. Deixei as músicas quietinhas, apenas pondo-as no meu mp3 preparando-o para as oito horas e meia de viagem de volta até Taubaté.
No ônibus São Paulo-Taubaté, decidi escutá-las de novo. Era dia, havia pessoas ao meu redor e eu estava estranhamente feliz. Assim que Don't Explain começou, lá estava eu com lágrimas nos olhos.
O show foi isso: uma carga emocional imensurável, uma beleza inexplicável.
Vamos a ele.
Tentarei não ser uma fã histérica tipicamente SandyeJunioriana, mas não vou garantir nada.
As luzes da Via Funchal se apagam. Sua atenção está voltada apenas para o palco e a iluminação fria, contida, cria um ambiente totalmente intimista que faz você esquecer que há milhares de pessoas ao seu redor - mas quem se importa com elas, afinal?
Embaladas por choros, aplausos e enfim um silêncio reverenciador (oh o plágio), Chan e a banda Dirty Delta Blues entram no palco. O que esperar de um show que sua terceira música é nada menos que Silver Stallion? Poderia ir embora realizada. We're gonna ride, we're gonna ride e Chan cavalgando no palco - como descrever uma cena dessas? A banda dá um show a parte, show esse a que a cantora assistia enquanto era assistida, mantendo-se a maior parte do tempo no lado direito do palco sem nunca assumir o centro.
Metal heart. Que fã de Cat Power nunca se apaixonou por essa música? Primeiro pela versão de Moon Pix, e a versão Jukebox chega até a assustar um pouco. Mas é impossível não se entregar a ela. Repetição é uma palavra que Chan Marshall não conhece. Nenhuma música sua vai ser igual a outra em nenhum show. Metal heart foi mais uma dessas recriações inesquecíveis. No show, ela te toca, te emociona. Afinal, é a clássica.
Fiquei bem feliz por não ter visto o setlist do show na Argentina, porque fui imensamente surpreendida quando Sea of love deu seus primeiros sinais. Começa tão doce Come with me, my love e então os aplausos e gritos apaixonados e agradecidos. Meu choro completamente incontido enquanto repetia em sussurros I wanna tell you how much I love you. Arrepiante. Mais aplausos, mais gritos. Qual seria a graça de saber que Cat Power iria nos presentear com essa canção?
Outra surpresa que vou ser eternamente grata: The Greatest seguida de Lived in Bars. Esse foi um daqueles momentos em que não acreditava que estava vivendo para ver aquilo. Não parecia real tamanha intensidade. Dejavu: Listeners know they’ve been hit by something but they’re not sure what. É exatamente isso.
Assiti a uma entrevista da Chan em que ela falava que queria cantar com a intensidade de Billie Holiday. Oh ceus, quanta modéstia! Don't explain, cover de sua ídola, é arrebatadora. Basta reparar no tom carregado de entrega e ressentimento quando canta I was so completely yours, e a firmeza e decisão do imperativo nos versos Don't explain, there is nothing within me now to gain reforçadas pelo peso do teclado. Sem falar do cha-cha-cha-chatter!
Angelitos Negros, a escolhida para o grand finale. Cantando em espanhol, a cantora nos proporciona talvez o momento mais intenso do show. Todos sabem que está prestes a acabar e a música vai te atingindo cada vez mais fundo.
Um espetáculo para os ouvidos e para os olhos. Chan Marshall existe, acreditem.
Ao fim de Angelitos Negros, você, aos poucos, vai sentindo sua respiração voltar. As luzes se acendem, a cantora continua ali com seus fãs, mas a realidade já se manifesta. Uma dificuldade ao inspirar e expirar. O show acabou.
Quando você não sabe muito bem porquê acorda todos os dias, a vida te dá um presente desses se redimindo por toda infelicidade que ela causa. E você a perdoa, sorrindo.

Ao som de: I lost someone - Cat Power

quarta-feira, 22 de julho de 2009

New York, New York

Como é bom rever seu filme preferido e lembrar porquê é o seu filme preferido. Hoje assisti mais uma vez a Manhattan e só acentuou minha paixão por ele.
Sempre penso por que as pessoas teimam em inventar, procurar problemas (de qualquer tipo) em certos intervalos de tempo. Caio F. acredita que é para se sentir vivo, a Fome com f maiúsculo. Coetzee diria que é por tédio, a felicidade cansa. Woody vai mais longe: criamos essas confusões para desviar nossa atenção das grandes e irresolúveis questões do ser humano-vida-morte-valores.
Eu acho que é um pouco de tudo.
Desde a primeira vez que assisti, escolhi umas cenas favoritas: a clássica em que a amante de Yale (Mary, personagem interpretada por Diane Keaton) e Isaac (Woody) estão sentados num banco e o dia está amanhecendo; a que Isaac e Tracy (Mariel Hemingway), sua namorada de apenas 17 anos, dão uma volta de carruagem e ele diz que ela é a resposta de Deus a Jó; e a conversa, na universidade, entre Isaac e Yale (Michael Murphy) que além de engraçada nos dá muita coisa para pensar: de um lado o polêmico Yale mostrando as contradições e imperfeições do homem, e do outro lado, Isaac, que acredita que o homem deve seguir certos padrões ideais de comportamento para poder conviver bem com si mesmo - ambos certos.
No entanto, outras cenas me marcaram dessa vez, como a conversa de Isaac com a ex esposa de Yale, Emily (Anne Byrne), quando o filme se aproxima do final, em que ele percebe que realmente gostava de Tracy e que nunca se permitiu envolver realmente com ela por causa da grande diferença de idade.
Outro momento especial é quando o personagem de Woody pega a gaita dada de presente por Tracy e se vê diante de lembranças, saudade e uma súbita coragem para seguir seus sentimentos e ir atrás da sua "criança de 17 anos".
O que me fez admirar ainda mais Tracy foi o modo como ela recebeu Isaac apesar de ele tê-la trocado por outra. E isso só confirma o que eu penso em relação a inutilidade de ser orgulhoso. Ela não o desdenhou, nem fingiu não sentir o que sentia - isso é orgulho, manter uma aparência, enquanto se corrói por dentro. A maturidade (da atitude e da auto estima) é tamanha que ela pôde ser sincera com seu interlocutor sem se sentir inferiorizada por isso. É admirável um comportamento assim. Tracy está a caminho de passar 6 meses em Londres e pede a Isaac para esperá-la, pois nem todas as pessoas foram corrompidas e ele devia ter um pouco mais de fé nelas.
É irônico se considerarmos a idade da menina que ainda está no segundo grau, Afinal, o que ela poderia saber sobre corrupção? Mas, ainda que o comentário seja ingênuo e ela nem imagine quantas decepções a esperam, se não tivermos essa esperança no ser humano, para que continuarmos vivendo, não é?

terça-feira, 21 de julho de 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

We're gonna ride

Eu ainda não tenho condições de escrever sobre o melhor show da minha vida, no qual desfrutei da melhor companhia possível: a minha hahaha.
Mas esse cara chegou bem perto do que foi:

Há umas duas décadas, todo estudante de violão costumava chatear os amigos dedilhando os primeiros acordes da balada folk House of the Rising Sun, um hino que ganhou o mundo em 1964 na voz de Eric Burdon, do grupo Animals.
Megaconhecida, hipertocada (Bob Dylan gravou, Dolly Parton gravou, Marcelo Nova gravou), foi justamente essa a canção escolhida pela diva indie Cat Power, nome de guerra da norte-americana Charlyn Marie ‘Chan'' Marshall, para abrir seu show na Via Funchal, na noite de sábado, às 22h19.
Era a senha de toda a ambição da cantora: na real, ela se ocupa de inventar novos atalhos para os nossos ouvidos, reavivando brasas de emoções batidas. Ilusionista de covers, crupiê de jukebox, a partir daí Cat Power passou então quase duas horas brincando de esconde-esconde com canções que pertenceram a Aretha Franklin, James Brown, John Fogerty, Kitty Wells, Joni Mitchell, Patsy Cline.
Praticamente às escuras, círculos de luz negra projetados no chão, casa lotada (mas uma plateia reverenciosamente silenciosa), o cenário estava cuidadosamente preparado para a conversão coletiva, que seria de arrepiar.
A cantora é hoje a contrapartida feminina de intérpretes viscerais como Leonard Cohen ou Jeff Buckley. Não conhece meias emoções, entra de cara e alma na espinha dorsal de cada música
. No tipo de arte que agarrou, há pouquíssima concorrência - ninguém tem aquele ronrom de gato na voz, raras conseguem ser tão delicadas e poderosas ao mesmo tempo, nenhuma consegue dominar uma banda como uma legítima bandleader do jeito que ela faz (talvez só Cassandra Wilson).
Houve diversos momentos celestiais no show de Cat Power, difícil destacar um apenas. Foi rascante o jeito que ela passou de Silver Stallion (que cantou cavalgando pelo palco) para New York New York, megahit de Frank Sinatra do qual ela ignorou o DNA e fabricou outra versão.
Passavam 10 minutos da meia-noite quando Cat se despediu, após cantar
o folk cucaracha Angelitos Negros. Ficou ainda mais 10 minutos no palco, distribuindo set lists para os fãs, abraçando, beijando mãos, fazendo reverências e batendo continência para a galera hipnotizada.

http://cultura.dgabc.com.br/default.asp?pt=secao&pg=detalhe&c=4&id=5755878&titulo=Cat+Power+hipnotiza+plateia

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Desencantamento

Ora, disse, a experiência não vale a pena. Não é algo que ocorra agradavelmente com um "eu" passivo - é uma parede contra qual um "eu" ativo se lança.

Isso é uma coisa que já tinha passado pela minha cabeça. De que vale a experiência? Somos pessoas muito mais infelizes acumulando tantas dores. Você nunca mais se apaixona e se entrega despreocupadamente a uma pessoa depois de ter sofrido por amor. Após a primeira grande decepção, sua fé no ser humano diminui drasticamente. Uma raiva intensa numa situação até passa, mas deixa sua marca ao gerar amargura no seu eu futuro. E não serve nem como aprendizado já que se lançar contra a parede uma vez não é garantia nenhuma de que não vá se lançar uma segunda, terceira, quarta... vez, mesmo carregando o fardo de um erro no passado.
Isso porque é da natureza humana a incoerência. O homem é incoerente a maior parte do tempo e em tudo que diz respeito a sentimentos ou valores morais. Duvide de pessoas hermeticamente convictas e intolerantes: quem julga dessa maneira é um mero espectador que só faz simplificar o abstrato, que desconsidera toda a complexidade do ser humano, reduzindo-o a frases desgastadas e por vezes não aplicáveis. Quando estamos dentro da situação, a teoria se confunde. O que era claro, se torna nebuloso, e perde-se as referências. Aprendi isso quando assisti a Uma mente brilhante: Convicção é um luxo para os que estão de fora.
Por isso talvez não aprendemos com os erros. O que aprendemos é alternar valores para justificar a sequência infindável desses erros, - e calar nossa consciência para conseguir seguir em frente -, afinal já dizia Garcia Marquez, moral é uma questão de tempo. Ou podemos reconhecer a própria falha, até nos arrepender, mas cientes de que isso não garante que não agiremos da mesma forma numa próxima vez.

A complexidade é muito sutil, muito variada; os valores se modificam a cada lesão de vitalidade, e chegamos à conclusão de que nada podemos aprender, do passado, que nos permita enfrentar o futuro.

Trechos: Os belos e os malditos (F. S. Fitzgerald)
Ao som de: Not fair - Lily Allen

quarta-feira, 15 de julho de 2009

a melhor definição de desejo

e também uma possível explicação sobre o amor (o seu fim), dentre tantas.

E isso me ensinou que não podemos ter nada, nada absolutamente. Porque o desejo nos engana. É como um raio de sol, passando daqui para ali dentro de uma sala. Pára e ilumina um objeto sem consequência, e nós, pobres tolos, tentamos agarrá-lo - quando o raio se move para outro lugar, temos o objeto, mas o brilho, o brilho que nos fez desejá-lo, desapareceu.
F. Scott Fitzgerald.

Ao som de: The Moon - Cat Power
ta chegando :)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Apatia

With a sky blue sky
This rotten time
Wouldn't seem so bad to me now
Oh, I didn't die
I should be satisfied
I survive
That's good enough for now

Sky blue Sky - Wilco

sábado, 11 de julho de 2009

uma declaração de amor

Cá estou para falar mais uma vez sobre Radiohead. Mas todo apaixonado é redundante então tenho no meu estado emocional a minha justificativa.
Pra falar tecnicamente sobre a banda, qualquer um o faz melhor que eu. O que se segue é uma declaração tão repleta de sentimentos quanto de particularidade.
Antes de Ok Computer, Radiohead era uma banda de rock. Uma banda de rock muito foda, mas era isso. Foi em 1997 com o lançamento de Ok Computer que os cinco conseguiram se destoar de tudo que havia sido feito e do que estava sendo feito e alcançaram fama mundial.
As composições desde então cientes de sua própria grandiosidade são em essência egoístas e egocêntricas. Elas não me permitem me ocupar com outras coisas. Enquanto as ouço, eu tenho que ser inteiramente delas - é o mínimo que exigem de mim por beirarem a perfeição. Se as obedeço, por vezes involuntariamente, elas deixam que eu me volte um pouquinho para mim mesma para buscar um rastro de identificação e aí se faz a perfeição de algumas específicas em épocas específicas. Poucas coisas são tão reconfortantes e emocionantes como o ato de se identificar com alguém, com alguma coisa.
Radiohead era pra mim um menino estranho que parecia ser legal - mas até aí existem muitas pessoas legais que eu não faço a menor questão de conhecer. Até que um amigo muito próximo a mim disse "conhece o cara que vale a pena". Segui o conselho, conheci. Simpatizei com o rapaz, mas não me apaixonei. Surgiu a oportunidade de sairmos juntos com um grupo grande de pessoas, o que não costuma me agradar, mas estava de bom humor e com boa vontade. No tal encontro, bastante impessoal, fui apenas como espectadora e me vi diante de algo extremamente grandioso, alguém que me impressionou de tal forma que qualquer outro menino me parecia inferior.
Enfim, cativada. E a paixão&amor surgiu pouquíssimo tempo depois num encontro íntimo.
Estou um "pouco" atrasada, confesso, mas posso me explicar. Em 1997 eu tinha apenas 9 anos e nos anos sucessores estive um tanto distraída. A demora foi compensada porque nosso sentimento é bem mais maduro e nossa relação, verdadeira. hehe
We are accidents
Waiting
Waiting to happen

(There there - Radiohead)

terça-feira, 7 de julho de 2009

"Cavalgar triunfante sobre todos os azares"


Assisti a um filme do Domingos (de?) Oliveira esses dias chamado Separações. Superficialmente trata de infidelidade, a necessidade de buscar outros corpos pra preencher nossas almas. E me pergunto, fidelidade é ou não uma utopia? É possível se sentir completo com apenas uma pessoa? Quando penso nisso, fico um tanto afligida. O futuro pode ser premeditado? O começo, a sensação de eternidade, então a traição - seja de que tipo for -, o desencanto, o fim, um recomeço e tudo novo de novo. Não há uma outra saída?

Nas palavras John A. Sanford embasada pela psicologia de Jung, a infidelidade tem relação direta com o desconhecimento do inconsciente. Quanto menos se sabe sobre vc mesmo, mais vc tende a procurar isso em outras pessoas, porcamente falando. Pelo fato de essas imagens de animus se projetarem, a mulher se sente dividida entre os dois homens, pois experimenta uma parte diferente de si mesma entrando em ação quando ela se relaciona com cada um dos dois homens.

Relembro os conselhos de Bill (Encontros e desencontros): quanto mais nos conhecemos, quanto mais sabemos o que queremos, menos deixamos as coisas nos abalarem. E coloco isso em relacionamentos, de uma maneira nada romântica: é necessário trabalhar em cima deles e em cima de si mesmo. Uma relação só pode dar certo quando as duas pessoas tem consciência e estão seguras do que elas são. As projeções que fazemos em cima das pessoas são sombras (positivas ou negativas) desconhecidas de nós mesmos. Se não temos essa ciência de que estamos exteriorizando algo interno e individual, a relação (abrangendo qualquer tipo de) se torna impossível: a pessoa que recebe uma imagem psíquica projetada por outra pessoa fica tendo força sobre essa pessoa, pois sempre que uma parte de nossa psique é percebida presente em outra pessoa essa outra pessoa passa a ter força e ascendência sobre nós (John A. Sanford). Que namoro/casamento suportaria um fardo desses?

Quando penso na fidelidade, logo me vem que isso é uma atitude natural de quem está plenamente satisfeito com a sua relação. Mas por quanto tempo? A fidelidade é tão natural como a atração por terceiros e o ciúme. Por isso Rubem Alves não apoia o casamento: assim se fazem os casamentos, com pedra, ferro, cimento e amor. Mas as coisas do amor não podem ser prometidas. Não posso prometer que, pelo resto da minha vida, sorrirei de alegria ao ouvir o seu nome. Não posso prometer que, pelo resto da minha vida, sentirei saudades na sua ausência.

Ou seja, a fidelidade não é uma utopia. Utopia é achar que tudo é para sempre - o que não significa necessariamente que uma relação tem que acabar um dia. A tendência (reforçando a palavra tendência) é que essas experiências sejam passageiras porque estamos sempre mudando. E o que interessa o castigo ou o prêmio? Tudo muda tanto que a pessoa que pecou na véspera já nãoé a mesma a ser punida no dia seguinte. Já dizia Lygia Fagundes Telles.

A que conclusão eu chego com tudo isso? Nem sei. Pensar em um futuro longíquo é perturbador até porque em maio vc faz planos pra julho e nesse meio tempo tudo pode acabar. Pensar que o fim está em qualquer esquina não é menos desolador - Mesmo aqueles em que a chama se apagou sonham em ouvir de alguém, um dia, as palavras que Heine escreveu para uma mulher: "Eu te amarei eternamente e ainda depois" (Rubem Alves). E viver o presente sem pensar no futuro me soa superficial.

Acho que a mim me resta me agarrar numa esperança romântica e ideal de que a fidelidade e um relacionamento "eterno" pode sim existir. É bastante cimento e tijolo, mas acredito que seja por aí: ser capaz de um amor real significa amadurecer, estimulando expectativas realistas em relação às outras pessoas. Significa aceitar a responsabilidade por nossa própria felicidade ou infelicidade, sem esperar que a outra pessoa nos faça felizes e sem censurá-la como se fosse responsável pelas nossas más disposições ou frustrações (John A.Sanford).

Mais bonito e poético é Cabral (retomando o Domingos (de?) Oliveira) se declarando pra Glorinha: A verdadeira liberdade de um homem não é seguir os seus impulsos, é seguir suas escolhas.

A escolha feita de ampla aceitação individual sem restrições ou condições e o amadurecimento da pessoa e do amor, ta aí uns ingredientes que podem funcionar.

Ao som de: Traffic Light - The ting tings

domingo, 5 de julho de 2009

ninguém vai rir

Atravessamos o presente de olhos vendados, mal podemos pressentir ou adivinhar aquilo que estamos vivendo. Só mais tarde, quando a venda é retirada e examinamos o passado, percebemos o que foi vivido, compreendendo o sentido do que se passou. Milan Kundera.

sábado, 4 de julho de 2009

"All that is left is an empty shell of my heart"

O segredo é ter coragem pra passar por aqueles mesmos lugares mais uma vez e então dar-lhes um novo valor. Não que esse novo valor vá apagar os velhos - esses vão continuar lá, mas de um jeito esquecido e não, sufocante. Evitá-los quase nunca adianta. Enfrentar, designar novos significados, isso é a real superação. Mesmo porque (tentar) acabar literalmente com as amarras de um passado é apenas fingir que algo não aconteceu, no entanto aconteceu e foi real e vai estar sempre ali pra te assombrar. Joel e Clementine são minhas provas. Aceitar que o que foi não volta, agora é só lembrança, e a maneira de encarar essa lembrança é que te tornam capaz de seguir em frente realmente.

Degenerescência cerebral, querida. Isso de se agarrar ao passado e começar como um rato, roque-roque, roendo as lembranças e se roendo. Lygia Fagundes Telles.

Ontem foi um dos melhores dias da minha vida.

All that is left is an empty shell
Of my heart that is crushed
I don't never wanna see
What my mind has seen
When you loved me
Every night every night alone with you
Every night alone now
When she sits on your lap
Try to pretend to laugh
When she does stupid things
Just like I used to do
Do not hate her
Don't you even try
For to leave her is to love her
The same as you and I
I love you
And I miss you too
I really do love you
And I really do miss you too
But I don't know you
And I don't need you
And I don't want you anymore anymore
Every night every night alone with you
Every night alone now

Empty Shell - Cat Power

Ao som de: After it all - Cat Power

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Extremos da paixão

Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida. Caio F.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Inconstância

estado: raiva

Hush now, don't explain
You're the cause of all my trouble and pain
Unless you're mad, don't explain
My love, my love, my love
Don't explain
There is nothing within me now to gain
You know that I love you
Look at what loving has done
All my thoughts were real and so sincere
I was so completely yours
You know I hear folks chatter
And I know you cheat
Right or wrong, that don't matter
You're here with me sit down, have a sit
It's your time to feel the pain
It's your time to weep
Don't explain
Hush now, don't explain
There is nothing within me now to gain
I'm gonna skip it instead
Don't explain, don't explain

Don't explain - Billie Holiday

Dejavu

A verdade com V maiúsculo diz respeito à vida antes da morte. Diz respeito a chegar aos 30 anos, ou talvez aos 50, sem querer dar um tiro na própria cabeça. Diz respeito à consciência - consciência de que o real e o essencial estão escondidos na obviedade ao nosso redor. (David Foster Wallace)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Does it get easier? No.


Tem gente que assisitiu a Encontros e Desencontros (Lost in translation ohoho) e se perguntou "mas que raios de história de amor é essa que ensaia pra espetáculo nenhum?". Eu chego a você que pensa assim e te pergunto: "meu querido, a que filme vc assistiu?".

O filme de Sofia Coppola é um encontro de solidões. Os protagonistas Bob Harris (Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson) estão perdidos. Ela, desempregada, casada há apenas dois anos e já não reconhece mais a pessoa com quem se casou, não sabe o que o destino reserva, mas não está muito otimista quanto a isso. Ele, bem mais velho, infeliz com seu casamento e com seu papel dispensável dentro dele, descontente com o rumo que sua vida profissional levou e não acredita que haja esperança. Vêem um no outro uma companhia e ao mesmo tempo um escapismo da vidalevadaquelevam. A atração acontece, mas é secundária. A relação que estabelecem ali é muito mais que um caso extra conjugal (até porque nem se consuma), é uma linda, intensa e sincera relação de amizade. E é por isso que é tão difícil partir. Partir, se separar, significa retomar a vida de antes com todos os desencantos e as duras doses de realidade.

E sim, as musas também sofrem pelo descaso dos homens. O papel vivido por Scarlett vê o marido se distanciando cada vez mais. É, não há esperança pra ninguém haha mentira.

You'll figure that out. I'm not worried about you. (...) You're a not hopeless. Para ela existe, segundo Bill.
E um conselho dele para todos: The more you know who you are and what you want, the less you let things upset you.


Minha dura dose de realidade diária: Para onde foi a imagem que me fez feliz, a imagem que morava nesse rosto? Agora, por mais que examinem, não conseguem encontrar sinais da sua presença. O rosto está opaco. Nesse mesmo rosto, agora, mora uma outra imagem, estranha, feita com materiais desumanos: pedra, gelo, fogo, deboche, alfinetes, areia. Contemplam o rosto conhecido e o desconhecem. Não encontram nele a imagem amada. O rosto dói: é o lugar da ausência da imagem que compunha a cena de felicidade que existia na alma "antes de haver o mundo". A cena de felicidade está rasgada. (Rubem Alves)


segunda-feira, 20 de abril de 2009

"When the bottle gets empty...

... then life ain't worth the drown"


Chan Marshall stops time. She sits at a piano or lays her guitar across her lap, and whether it’s a noisy club overflowing with drunks or a coffee house full of laptoppers, Chan Marshall draws all the attention in the room and makes the world stop spinning. As Cat Power, Marshall’s music seems to rise from nowhere, envelop the room, then vanish; listeners know they’ve been hit by something but they’re not sure what.

http://www.matadorrecords.com/cat_power/biography.html

ao som de: Free - Cat Power

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Quem quer ser um milionário...

É isso aí:

O filme de Danny Boyle tem traços de extremo realismo, quase insuportáveis de ver, dentro de uma trama absolutamente implausível, e por cima disso vem uma calda de caramelo capaz de envergonhar qualquer novela mexicana. Implausível todo o interrogatório a que é submetido o personagem principal, por exemplo, na véspera de sua aparição decisiva num programa de perguntas e respostas da TV. Se quisessem tirar-lhe o prêmio, haveria maneiras mais fáceis do que tentar extrair dele uma confissão sob tortura numa delegacia de Bombaim.

Mais bizarro é o epílogo triunfal do filme, que imagino obedecer a alguma convenção de Bollywood: mocinho e mocinha, numa estação de trem, dançando uma espécie de “disco music” no estilo John Travolta; como conciliar isso com as realidades miseráveis, dramáticas, seríssimas, apresentadas no início? Será que, como nos programas de auditório, no fundo nada é para valer?

A implausibilidade de tudo tem, quem sabe, até um fundo religioso. Os mais inacreditáveis lances de sorte e de azar do filme no fim terminam explicados, no canto da tela, pela reprodução de uma frase várias vezes repetida pelo personagem: “era esse o meu destino”; algo como “estava escrito”, “maktub”. Ora bolas. Estava escrito, sim, mas por um roteirista de terceira categoria.


Desabafo de Marcelo Coelho.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Mae West

Nunca ando quando posso me sentar, nem me sento quando posso me deitar.

Li essa citação num blog e o cara dizia que essa era toda a filosofia esportiva dele. Eu vou além: isso tem sido o lema da minha vida ohoho. (não, não acho isso bonito)
Risíveis amores, risíveis interrelações. É essa pobreza humana que Milan Kundera trata em Risíveis Amores, numa reunião de sete contos: A maçã de ouro do eterno desejo, Ninguém vai rir, O jogo da carona, O simpósio, Que os velhos mortos cedam lugar aos novos mortos, O Dr Havel dez anos depois e Eduardo e Deus. Cada um contém sua dose de inusitado e extravagância o que talvez tenha sido demasiado exagerado devido à limitação de caracteres que um conto exige. Sem muito espaço para desenvolver a complexidade que costuma depositar em seus personagens, alguma postura, às vezes o enredo inteiro soavam forçados para mim. No entanto, isso acaba se tornando secundário quando se analisa o livro como um todo e não como se os contos não tivessem correlação alguma. Embora as histórias se diferenciem muito entre si, a essência de seus personagens é basicamente o você no outro, o quanto uma outra pessoa é fator determinante nas suas atitudes, o quanto você se deixa influenciar pelo externo. E é a isso que o leitor deve se ater, acima do modo como Kundera resolve abordar.
Foi em Que os velhos mortos cedam lugar aos novos mortos que o autor finalmente me cativou. Uma história simples: um homem e uma mulher se reencontram após 15 anos. No passado não se pode dizer que tiveram uma relação, mas que marcaram um ao outro em uma noite. Li só uma vez e o que se fixou em mim foram as angústias que rodeavam essa mulher. Não sei até que ponto isso foi uma certa identificação ou se o homem é secundário mesmo. Enfim, o que eu realmente gostei foi da liberdade que ela adquire após esse encontro.

Os velhos mortos deviam ceder lugar aos novos mortos e os monumentos não serviam para nada, mesmo o monumento à sua própria memória que o homem que estava agora a seu lado reverenciava durante 15 anos não servia para nada, todos os monumentos não serviam para nada, para nada. (...) Diante da vida, ela não tinha nenhuma razão para dar preferência aos monumentos; seu próprio monumento não tinha mais valor algum para ela, a menos que pudesse explorá-lo nesse momento, abusivamente, para o bem de seu corpo desprezado (...); se depois ela lhe inspirasse repulsa, pouco se importava, porque esse monumento estava fora dela, como estavam fora dela o pensamento e a memória desse homem, e nada contava daquilo que estava fora dela.

(1591 caracteres)
Ao som de: Videotape - Radiohead (eu tinha parado de ouvir um pouco, mas hoje li o a resenha de Alexandre Matias sobre o show e não teve como, voltei pra zona oeste de são paulo no dia 22 de março de 2009...)

sexta-feira, 27 de março de 2009

"A Ivete Sangalo da MPB"


Tá, essa analogia não foi feita por mim, mas resume perfeitamente a minha impressão pós show da Maria Rita ontem. (Deixando claro que isso não é uma ofensa. Curto a Ivete, acho ela superespontânea, engraçada, animada, uma cantora que abarca todas as qualidades que seu estilo exige, etc etc.)
Mas saí do show gostando menos da herança Elis do que quando entrei. A culpa é toda minha, admito. Como alguém que não é das mais fãs de samba vai num show cuja turnê é de um álbum chamado nada menos que cof cof "Samba meu"?
Fui lá buscando o lado dark da Maria Rita. Aquela que faria um show pra morrer de chorar, que cantaria "Eu vi, pois é, eu reparei, você me tirou todo o ar pra que eu pudesse respirar"; "Devolve aquela minha TV que eu vou de vez Não há porque chorar por um amor que já morreu"; "Ficou difícil, tudo aquilo, nada disso Sobrou meu velho vício de sonhar".
Mas eis que me deparo com uma Maria Rita fazendo Ivete morrer de inveja com seu microvestido, cheia de caras e bocas e passinhos pra-la-e-pra-ca, com os braços acompanhando no alto.
(o som tá credo. pra facilitar a identificação, ela ta cantando Cara Valente)
Ah, claro que no meu show ideal teria espaço pra Pagu, Cara Valente, Conta Outra, Num corpo só e essas ela até chegou a cantar, só que aí eu já tava de saco cheio de tanto ouvir pandeiro, batuques, alegria alegria, "não deixe o samba morrer".
Mas ta ok, deve ter sido um bom show pra quem curte o último álbum e simpatiza com a senhorita eu-sou-gostosa-e-sei-disso.

Nem queria comentar sobre o cenário – pois é até injusto, já que quem vos fala voltou do Radiohead a 5 dias -, mas comento assim mesmo hihi: bastante pobrezin e breguinha...

De qualquer forma, um lance é inconstestável: a danada canta muito mesmo.
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quarta-feira, 25 de março de 2009

Agora, a nostalgia...

A montagem do palco pós Kraftwerk deixava todos curiosos e ansiosos pelo que estava por vir. Tudo muito inédito, muito estranho - e por isso, muito instigante. O público uníssono "Radiohead, Radiohead...", nas mais diferentes entonações, vozes, emoções, clamava pela banda.
Pontualmente, às 22h (ou 21h55?) os ingleses subiram ao palco e todo aquele ambiente fez-se entender. A iluminação acompanhava os tons de cada música, captando exatamente sua presença. Um palco que era uma simbiose de som, luz, banda. Indissociáveis.


Abrindo o show com nada menos que 15 step, os fãs alucinados ofuscavam a voz de Thom Yorke. A escolhida como sucessora, There there, com sua percussão contagiante e envolvente, teve direito até a tambor!
Talk show host foi arrepiante, assim como Nude e Exit music (for a film), essas duas últimas com tamanha autoridade que as 30 mil pessoas se calaram para ouvir apenas Yorke e seu violão.
Ao final de Karma police, o público continuou a cantar "For a minute there, I lost myself, I lost myself", o que resultou numa belíssima forma de agradecimento a banda, que nos presenteou com esse clássico de Ok Computer.
Com direito a 3 bis (no Rio foram só dois HA), a banda resolveu nos felicitar com Paranoid Android, Fake Plastic Trees, Everything in its right place.
A performance de Paranoid Android foi inesquecível e inigualável. Sem dúvidas, para mim, a melhor tocada pela banda. Luzes que se alucinavam quando a guitarra aparecia e se aquietavam quando Thom cantava "Rain down, rain down, come on rain down on me, from a great height, from a great height". Novamente, de uma forma inusitada o público continou a cantar em coro após o término da música e o vocalista improvisou numa apresentação inédita e única.
Reckoner que já é lindíssima no pc, ao vivo foi intensa, apaixonante, principalmente no solo de Yorke. Para dar um tom ainda mais singular à performance na Chácara do Jockey, a banda precedeu Everything in its right place com True love waits (que só havia sido tocada em dois shows dessa imensa turnê).
Injusto seria frustrar aquela imensidão de pessoas que ansiavam por Creep, escolhida para encerrar o show no Rio. Fizemos por merecer e no terceiro e último bis, os caras voltaram com tudo para tocar o clássico dos clássicos e fechar a noite com o grand finale!
O vocalista, o ser mais esquisitinho e por isso cativante, tinha A presença de palco, ainda que com poucas palavras (Boa noitche, Obrigadou), algumas poucas risadinhas e ruídos não identificáveis. Em Videotape que abriu o primeiro bis, Thom Yorke foi para o piano e sem olhar para o instrumento, focava uma câmera colocada numa posição estratégica que o exibia num ângulo sensacional e estonteante nos telões (essa foto aí em cima).
Se a emoção permeava a multidão que assistia ao show, em cima dos palcos não era diferente, num movimento bilateral. Quem agradecia agora era ele, e vimos o pequeno Thom Yorke de 1 metro e 66 ajoelhando para a platéia.

Inesquecível para nós e para eles, a banda deve ter se perguntado "por que demoramos tanto pra vir?". Mas toda essa demora serviu pra tornar esse show histórico, resultado de toda uma espera de 16 anos desde o lançamento de Pablo Honey em 1993.



Agora voltando umas oito horas atrás, lá estava eu com duas amigas na fila curtindo a passagem de som de uma bandinha chamada Los Hermanos. Entre um jogo de stop e comentários banais, tentativas frustradas de descobrir que música a banda estava tocando. Um bom tempo depois, quando os portões se abriram, foi aquela correria. Guardamos nosso lugar e lá ficamos até a muvuca começar.
Contávamos com o atraso de horas e foi uma surpresa enorme quando os hermanos entraram no palco no horário determinado. Vecendora de uma aposta, a banda abriu o show com Todo carnaval tem seu fim e eu que nem gosto tanto dessa música, fiquei ensandecida com os caras ali e com o gostinho da vitória HA.
A alegria de estarem tocando juntos novamente era tão grande que os caras estranhos estavam mais espontâneos do que nunca! Amarante estava impressionado com toda aquela multidão "tem muita gente aqui" e soltou um comentário avulso durante o show "humm ventinho bom!", divertindo a platéia. Camelo exalando meiguice disse um "que lindo!".
Apesar de contar com apenas uma hora e dez de show, como sempre a banda passou seu recado muito bem. As palmas em Condicional deixaram Amarante cantando sorrindo.
Cada música teve um significado diferente e bastante pessoal.
Além do que se vê, uma troca de olhares entre uma que é tudo ao mesmo tempo: amiga, prima, irmã;
Morena, "Pra nós todo o amor do mundo/Pra eles o outro lado/Eu digo mal me quer/Ninguém escapa o peso de viver assim/Ser assim, eu não/Prefiro assim com você/Juntinho sem caber de imaginar/Até o fim raiar", sussurada ao ouvido, o abraço e o beijo;
Deixa o verão, o só-quem-tava-la-pra-saber dessa vez literalmente haha. A manifestação mais linda de qualquer amizade, a empolgação entre tantas pessoas sossegadinhas, a vontade de buscar pessoas que estão longe;
Cher Antoine, o fetiche realizado ao ver Amarante cantando em francês;
e uma sequência de arrasar, de chorar, de se emocionar com: Casa pré fabricada, Último romance e Sentimental.
A banda encerrou com A flor que levantou todo o público deixando todos com vontade de mais e mais. Como se não fosse uma banda de abertura e sim o espetáculo único, foi nesse clima que Los Hermanos entraram e deixaram o palco.
Fã que é fã é sempre folgado e exigente, ou seja, muito chato. Radiohead poderia ter sido mais bonzinho e tocado High and dry, Just, 2+2=5, No surprises, músicas que a multidão teve a audácia de pedir pós terceiro bis com Creep. Los Hermanos poderiam ter tocado Santa chuva, Deixa estar, O velho e o moço. Mas ta ok. haha.
Just a fest foi "irresumível", impossível ser sucinto e transpôr tudo isso em alguma palavra... É uma mistura de ouvir, ver e sentir e uma vontade de ficar assim pra sempre.

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Ao som de: No surprises - Radiohead

sexta-feira, 20 de março de 2009

Era isso que eu tinha pra falar


In Rainbows é um conceito fechado, uma declaração de princípios, um manifesto estético. Mais do que um disco que assumiu-se digital por natureza e copiável por definição, é uma coleção de canções que não apenas traduzem certas sensações que permeiam nosso dia a dia, como faz isso com estilo, bom gosto, senso de importância e perspectiva histórica. Uma obra que ainda faz valer a existência de um formato, a prova de que o fim do CD não pressupõe o fim do álbum. E, por tudo isso, é o disco mais importante da década.

(...)

A expectativa para os shows do Radiohead no Brasil essa semana não é à toa: estamos às vésperas de assistir à maior banda do planeta hoje tocar o show da turnê do disco da década.


por Alexandre Matias
íntegra: http://screamyell.com.br/site/2009/03/17/in-rainbows-o-album-da-decada/

;)