A montagem do palco pós Kraftwerk deixava todos curiosos e ansiosos pelo que estava por vir. Tudo muito inédito, muito estranho - e por isso, muito instigante. O público uníssono "Radiohead, Radiohead...", nas mais diferentes entonações, vozes, emoções, clamava pela banda.
Pontualmente, às 22h (ou 21h55?) os ingleses subiram ao palco e todo aquele ambiente fez-se entender. A iluminação acompanhava os tons de cada música, captando exatamente sua presença. Um palco que era uma simbiose de som, luz, banda. Indissociáveis.
Abrindo o show com nada menos que 15 step, os fãs alucinados ofuscavam a voz de Thom Yorke. A escolhida como sucessora, There there, com sua percussão contagiante e envolvente, teve direito até a tambor!
Talk show host foi arrepiante, assim como Nude e Exit music (for a film), essas duas últimas com tamanha autoridade que as 30 mil pessoas se calaram para ouvir apenas Yorke e seu violão.
Ao final de Karma police, o público continuou a cantar "For a minute there, I lost myself, I lost myself", o que resultou numa belíssima forma de agradecimento a banda, que nos presenteou com esse clássico de Ok Computer.
Com direito a 3 bis (no Rio foram só dois HA), a banda resolveu nos felicitar com Paranoid Android, Fake Plastic Trees, Everything in its right place.
A performance de Paranoid Android foi inesquecível e inigualável. Sem dúvidas, para mim, a melhor tocada pela banda. Luzes que se alucinavam quando a guitarra aparecia e se aquietavam quando Thom cantava "Rain down, rain down, come on rain down on me, from a great height, from a great height". Novamente, de uma forma inusitada o público continou a cantar em coro após o término da música e o vocalista improvisou numa apresentação inédita e única.
Reckoner que já é lindíssima no pc, ao vivo foi intensa, apaixonante, principalmente no solo de Yorke. Para dar um tom ainda mais singular à performance na Chácara do Jockey, a banda precedeu Everything in its right place com True love waits (que só havia sido tocada em dois shows dessa imensa turnê).
Injusto seria frustrar aquela imensidão de pessoas que ansiavam por Creep, escolhida para encerrar o show no Rio. Fizemos por merecer e no terceiro e último bis, os caras voltaram com tudo para tocar o clássico dos clássicos e fechar a noite com o grand finale!
O vocalista, o ser mais esquisitinho e por isso cativante, tinha A presença de palco, ainda que com poucas palavras (Boa noitche, Obrigadou), algumas poucas risadinhas e ruídos não identificáveis. Em Videotape que abriu o primeiro bis, Thom Yorke foi para o piano e sem olhar para o instrumento, focava uma câmera colocada numa posição estratégica que o exibia num ângulo sensacional e estonteante nos telões (essa foto aí em cima).
Se a emoção permeava a multidão que assistia ao show, em cima dos palcos não era diferente, num movimento bilateral. Quem agradecia agora era ele, e vimos o pequeno Thom Yorke de 1 metro e 66 ajoelhando para a platéia.
Inesquecível para nós e para eles, a banda deve ter se perguntado "por que demoramos tanto pra vir?". Mas toda essa demora serviu pra tornar esse show histórico, resultado de toda uma espera de 16 anos desde o lançamento de Pablo Honey em 1993.
Agora voltando umas oito horas atrás, lá estava eu com duas amigas na fila curtindo a passagem de som de uma bandinha chamada Los Hermanos. Entre um jogo de stop e comentários banais, tentativas frustradas de descobrir que música a banda estava tocando. Um bom tempo depois, quando os portões se abriram, foi aquela correria. Guardamos nosso lugar e lá ficamos até a muvuca começar.
Contávamos com o atraso de horas e foi uma surpresa enorme quando os hermanos entraram no palco no horário determinado. Vecendora de uma aposta, a banda abriu o show com Todo carnaval tem seu fim e eu que nem gosto tanto dessa música, fiquei ensandecida com os caras ali e com o gostinho da vitória HA.
A alegria de estarem tocando juntos novamente era tão grande que os caras estranhos estavam mais espontâneos do que nunca! Amarante estava impressionado com toda aquela multidão "tem muita gente aqui" e soltou um comentário avulso durante o show "humm ventinho bom!", divertindo a platéia. Camelo exalando meiguice disse um "que lindo!".
Apesar de contar com apenas uma hora e dez de show, como sempre a banda passou seu recado muito bem. As palmas em Condicional deixaram Amarante cantando sorrindo.
Cada música teve um significado diferente e bastante pessoal.
Além do que se vê, uma troca de olhares entre uma que é tudo ao mesmo tempo: amiga, prima, irmã;
Morena, "Pra nós todo o amor do mundo/Pra eles o outro lado/Eu digo mal me quer/Ninguém escapa o peso de viver assim/Ser assim, eu não/Prefiro assim com você/Juntinho sem caber de imaginar/Até o fim raiar", sussurada ao ouvido, o abraço e o beijo;
Deixa o verão, o só-quem-tava-la-pra-saber dessa vez literalmente haha. A manifestação mais linda de qualquer amizade, a empolgação entre tantas pessoas sossegadinhas, a vontade de buscar pessoas que estão longe;
Cher Antoine, o fetiche realizado ao ver Amarante cantando em francês;
e uma sequência de arrasar, de chorar, de se emocionar com: Casa pré fabricada, Último romance e Sentimental.
A banda encerrou com A flor que levantou todo o público deixando todos com vontade de mais e mais. Como se não fosse uma banda de abertura e sim o espetáculo único, foi nesse clima que Los Hermanos entraram e deixaram o palco.
Fã que é fã é sempre folgado e exigente, ou seja, muito chato. Radiohead poderia ter sido mais bonzinho e tocado High and dry, Just, 2+2=5, No surprises, músicas que a multidão teve a audácia de pedir pós terceiro bis com Creep. Los Hermanos poderiam ter tocado Santa chuva, Deixa estar, O velho e o moço. Mas ta ok. haha.
Just a fest foi "irresumível", impossível ser sucinto e transpôr tudo isso em alguma palavra... É uma mistura de ouvir, ver e sentir e uma vontade de ficar assim pra sempre.
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Ao som de: No surprises - Radiohead