segunda-feira, 30 de março de 2009

Mae West

Nunca ando quando posso me sentar, nem me sento quando posso me deitar.

Li essa citação num blog e o cara dizia que essa era toda a filosofia esportiva dele. Eu vou além: isso tem sido o lema da minha vida ohoho. (não, não acho isso bonito)
Risíveis amores, risíveis interrelações. É essa pobreza humana que Milan Kundera trata em Risíveis Amores, numa reunião de sete contos: A maçã de ouro do eterno desejo, Ninguém vai rir, O jogo da carona, O simpósio, Que os velhos mortos cedam lugar aos novos mortos, O Dr Havel dez anos depois e Eduardo e Deus. Cada um contém sua dose de inusitado e extravagância o que talvez tenha sido demasiado exagerado devido à limitação de caracteres que um conto exige. Sem muito espaço para desenvolver a complexidade que costuma depositar em seus personagens, alguma postura, às vezes o enredo inteiro soavam forçados para mim. No entanto, isso acaba se tornando secundário quando se analisa o livro como um todo e não como se os contos não tivessem correlação alguma. Embora as histórias se diferenciem muito entre si, a essência de seus personagens é basicamente o você no outro, o quanto uma outra pessoa é fator determinante nas suas atitudes, o quanto você se deixa influenciar pelo externo. E é a isso que o leitor deve se ater, acima do modo como Kundera resolve abordar.
Foi em Que os velhos mortos cedam lugar aos novos mortos que o autor finalmente me cativou. Uma história simples: um homem e uma mulher se reencontram após 15 anos. No passado não se pode dizer que tiveram uma relação, mas que marcaram um ao outro em uma noite. Li só uma vez e o que se fixou em mim foram as angústias que rodeavam essa mulher. Não sei até que ponto isso foi uma certa identificação ou se o homem é secundário mesmo. Enfim, o que eu realmente gostei foi da liberdade que ela adquire após esse encontro.

Os velhos mortos deviam ceder lugar aos novos mortos e os monumentos não serviam para nada, mesmo o monumento à sua própria memória que o homem que estava agora a seu lado reverenciava durante 15 anos não servia para nada, todos os monumentos não serviam para nada, para nada. (...) Diante da vida, ela não tinha nenhuma razão para dar preferência aos monumentos; seu próprio monumento não tinha mais valor algum para ela, a menos que pudesse explorá-lo nesse momento, abusivamente, para o bem de seu corpo desprezado (...); se depois ela lhe inspirasse repulsa, pouco se importava, porque esse monumento estava fora dela, como estavam fora dela o pensamento e a memória desse homem, e nada contava daquilo que estava fora dela.

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Ao som de: Videotape - Radiohead (eu tinha parado de ouvir um pouco, mas hoje li o a resenha de Alexandre Matias sobre o show e não teve como, voltei pra zona oeste de são paulo no dia 22 de março de 2009...)

sexta-feira, 27 de março de 2009

"A Ivete Sangalo da MPB"


Tá, essa analogia não foi feita por mim, mas resume perfeitamente a minha impressão pós show da Maria Rita ontem. (Deixando claro que isso não é uma ofensa. Curto a Ivete, acho ela superespontânea, engraçada, animada, uma cantora que abarca todas as qualidades que seu estilo exige, etc etc.)
Mas saí do show gostando menos da herança Elis do que quando entrei. A culpa é toda minha, admito. Como alguém que não é das mais fãs de samba vai num show cuja turnê é de um álbum chamado nada menos que cof cof "Samba meu"?
Fui lá buscando o lado dark da Maria Rita. Aquela que faria um show pra morrer de chorar, que cantaria "Eu vi, pois é, eu reparei, você me tirou todo o ar pra que eu pudesse respirar"; "Devolve aquela minha TV que eu vou de vez Não há porque chorar por um amor que já morreu"; "Ficou difícil, tudo aquilo, nada disso Sobrou meu velho vício de sonhar".
Mas eis que me deparo com uma Maria Rita fazendo Ivete morrer de inveja com seu microvestido, cheia de caras e bocas e passinhos pra-la-e-pra-ca, com os braços acompanhando no alto.
(o som tá credo. pra facilitar a identificação, ela ta cantando Cara Valente)
Ah, claro que no meu show ideal teria espaço pra Pagu, Cara Valente, Conta Outra, Num corpo só e essas ela até chegou a cantar, só que aí eu já tava de saco cheio de tanto ouvir pandeiro, batuques, alegria alegria, "não deixe o samba morrer".
Mas ta ok, deve ter sido um bom show pra quem curte o último álbum e simpatiza com a senhorita eu-sou-gostosa-e-sei-disso.

Nem queria comentar sobre o cenário – pois é até injusto, já que quem vos fala voltou do Radiohead a 5 dias -, mas comento assim mesmo hihi: bastante pobrezin e breguinha...

De qualquer forma, um lance é inconstestável: a danada canta muito mesmo.
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quarta-feira, 25 de março de 2009

Agora, a nostalgia...

A montagem do palco pós Kraftwerk deixava todos curiosos e ansiosos pelo que estava por vir. Tudo muito inédito, muito estranho - e por isso, muito instigante. O público uníssono "Radiohead, Radiohead...", nas mais diferentes entonações, vozes, emoções, clamava pela banda.
Pontualmente, às 22h (ou 21h55?) os ingleses subiram ao palco e todo aquele ambiente fez-se entender. A iluminação acompanhava os tons de cada música, captando exatamente sua presença. Um palco que era uma simbiose de som, luz, banda. Indissociáveis.


Abrindo o show com nada menos que 15 step, os fãs alucinados ofuscavam a voz de Thom Yorke. A escolhida como sucessora, There there, com sua percussão contagiante e envolvente, teve direito até a tambor!
Talk show host foi arrepiante, assim como Nude e Exit music (for a film), essas duas últimas com tamanha autoridade que as 30 mil pessoas se calaram para ouvir apenas Yorke e seu violão.
Ao final de Karma police, o público continuou a cantar "For a minute there, I lost myself, I lost myself", o que resultou numa belíssima forma de agradecimento a banda, que nos presenteou com esse clássico de Ok Computer.
Com direito a 3 bis (no Rio foram só dois HA), a banda resolveu nos felicitar com Paranoid Android, Fake Plastic Trees, Everything in its right place.
A performance de Paranoid Android foi inesquecível e inigualável. Sem dúvidas, para mim, a melhor tocada pela banda. Luzes que se alucinavam quando a guitarra aparecia e se aquietavam quando Thom cantava "Rain down, rain down, come on rain down on me, from a great height, from a great height". Novamente, de uma forma inusitada o público continou a cantar em coro após o término da música e o vocalista improvisou numa apresentação inédita e única.
Reckoner que já é lindíssima no pc, ao vivo foi intensa, apaixonante, principalmente no solo de Yorke. Para dar um tom ainda mais singular à performance na Chácara do Jockey, a banda precedeu Everything in its right place com True love waits (que só havia sido tocada em dois shows dessa imensa turnê).
Injusto seria frustrar aquela imensidão de pessoas que ansiavam por Creep, escolhida para encerrar o show no Rio. Fizemos por merecer e no terceiro e último bis, os caras voltaram com tudo para tocar o clássico dos clássicos e fechar a noite com o grand finale!
O vocalista, o ser mais esquisitinho e por isso cativante, tinha A presença de palco, ainda que com poucas palavras (Boa noitche, Obrigadou), algumas poucas risadinhas e ruídos não identificáveis. Em Videotape que abriu o primeiro bis, Thom Yorke foi para o piano e sem olhar para o instrumento, focava uma câmera colocada numa posição estratégica que o exibia num ângulo sensacional e estonteante nos telões (essa foto aí em cima).
Se a emoção permeava a multidão que assistia ao show, em cima dos palcos não era diferente, num movimento bilateral. Quem agradecia agora era ele, e vimos o pequeno Thom Yorke de 1 metro e 66 ajoelhando para a platéia.

Inesquecível para nós e para eles, a banda deve ter se perguntado "por que demoramos tanto pra vir?". Mas toda essa demora serviu pra tornar esse show histórico, resultado de toda uma espera de 16 anos desde o lançamento de Pablo Honey em 1993.



Agora voltando umas oito horas atrás, lá estava eu com duas amigas na fila curtindo a passagem de som de uma bandinha chamada Los Hermanos. Entre um jogo de stop e comentários banais, tentativas frustradas de descobrir que música a banda estava tocando. Um bom tempo depois, quando os portões se abriram, foi aquela correria. Guardamos nosso lugar e lá ficamos até a muvuca começar.
Contávamos com o atraso de horas e foi uma surpresa enorme quando os hermanos entraram no palco no horário determinado. Vecendora de uma aposta, a banda abriu o show com Todo carnaval tem seu fim e eu que nem gosto tanto dessa música, fiquei ensandecida com os caras ali e com o gostinho da vitória HA.
A alegria de estarem tocando juntos novamente era tão grande que os caras estranhos estavam mais espontâneos do que nunca! Amarante estava impressionado com toda aquela multidão "tem muita gente aqui" e soltou um comentário avulso durante o show "humm ventinho bom!", divertindo a platéia. Camelo exalando meiguice disse um "que lindo!".
Apesar de contar com apenas uma hora e dez de show, como sempre a banda passou seu recado muito bem. As palmas em Condicional deixaram Amarante cantando sorrindo.
Cada música teve um significado diferente e bastante pessoal.
Além do que se vê, uma troca de olhares entre uma que é tudo ao mesmo tempo: amiga, prima, irmã;
Morena, "Pra nós todo o amor do mundo/Pra eles o outro lado/Eu digo mal me quer/Ninguém escapa o peso de viver assim/Ser assim, eu não/Prefiro assim com você/Juntinho sem caber de imaginar/Até o fim raiar", sussurada ao ouvido, o abraço e o beijo;
Deixa o verão, o só-quem-tava-la-pra-saber dessa vez literalmente haha. A manifestação mais linda de qualquer amizade, a empolgação entre tantas pessoas sossegadinhas, a vontade de buscar pessoas que estão longe;
Cher Antoine, o fetiche realizado ao ver Amarante cantando em francês;
e uma sequência de arrasar, de chorar, de se emocionar com: Casa pré fabricada, Último romance e Sentimental.
A banda encerrou com A flor que levantou todo o público deixando todos com vontade de mais e mais. Como se não fosse uma banda de abertura e sim o espetáculo único, foi nesse clima que Los Hermanos entraram e deixaram o palco.
Fã que é fã é sempre folgado e exigente, ou seja, muito chato. Radiohead poderia ter sido mais bonzinho e tocado High and dry, Just, 2+2=5, No surprises, músicas que a multidão teve a audácia de pedir pós terceiro bis com Creep. Los Hermanos poderiam ter tocado Santa chuva, Deixa estar, O velho e o moço. Mas ta ok. haha.
Just a fest foi "irresumível", impossível ser sucinto e transpôr tudo isso em alguma palavra... É uma mistura de ouvir, ver e sentir e uma vontade de ficar assim pra sempre.

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Ao som de: No surprises - Radiohead

sexta-feira, 20 de março de 2009

Era isso que eu tinha pra falar


In Rainbows é um conceito fechado, uma declaração de princípios, um manifesto estético. Mais do que um disco que assumiu-se digital por natureza e copiável por definição, é uma coleção de canções que não apenas traduzem certas sensações que permeiam nosso dia a dia, como faz isso com estilo, bom gosto, senso de importância e perspectiva histórica. Uma obra que ainda faz valer a existência de um formato, a prova de que o fim do CD não pressupõe o fim do álbum. E, por tudo isso, é o disco mais importante da década.

(...)

A expectativa para os shows do Radiohead no Brasil essa semana não é à toa: estamos às vésperas de assistir à maior banda do planeta hoje tocar o show da turnê do disco da década.


por Alexandre Matias
íntegra: http://screamyell.com.br/site/2009/03/17/in-rainbows-o-album-da-decada/

;)