quarta-feira, 29 de julho de 2009

Hold on

how??

But it's so hard to dance that way
When it's cold and there's no music

sábado, 25 de julho de 2009

Hapiness is a warm gun

When I hold you in my arms
And I feel my finger on your trigger
I know nobody can do me no harm
Happiness is a warm gun

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Metal heart you're not worth a thing

Quando voltei a Bauru, fui atrás do áudio do show da Cat Power em São Paulo. Achei alguns vídeos do youtube e pus pra ouvir. De repente, lá estava eu chorando mais uma vez com as músicas entrando em mim, fincando suas palavras e melodias com uma força enorme. Eu sozinha de noite numa cidade vazia cheia de lembranças. Deve ser por isso, pensei eu. Deixei as músicas quietinhas, apenas pondo-as no meu mp3 preparando-o para as oito horas e meia de viagem de volta até Taubaté.
No ônibus São Paulo-Taubaté, decidi escutá-las de novo. Era dia, havia pessoas ao meu redor e eu estava estranhamente feliz. Assim que Don't Explain começou, lá estava eu com lágrimas nos olhos.
O show foi isso: uma carga emocional imensurável, uma beleza inexplicável.
Vamos a ele.
Tentarei não ser uma fã histérica tipicamente SandyeJunioriana, mas não vou garantir nada.
As luzes da Via Funchal se apagam. Sua atenção está voltada apenas para o palco e a iluminação fria, contida, cria um ambiente totalmente intimista que faz você esquecer que há milhares de pessoas ao seu redor - mas quem se importa com elas, afinal?
Embaladas por choros, aplausos e enfim um silêncio reverenciador (oh o plágio), Chan e a banda Dirty Delta Blues entram no palco. O que esperar de um show que sua terceira música é nada menos que Silver Stallion? Poderia ir embora realizada. We're gonna ride, we're gonna ride e Chan cavalgando no palco - como descrever uma cena dessas? A banda dá um show a parte, show esse a que a cantora assistia enquanto era assistida, mantendo-se a maior parte do tempo no lado direito do palco sem nunca assumir o centro.
Metal heart. Que fã de Cat Power nunca se apaixonou por essa música? Primeiro pela versão de Moon Pix, e a versão Jukebox chega até a assustar um pouco. Mas é impossível não se entregar a ela. Repetição é uma palavra que Chan Marshall não conhece. Nenhuma música sua vai ser igual a outra em nenhum show. Metal heart foi mais uma dessas recriações inesquecíveis. No show, ela te toca, te emociona. Afinal, é a clássica.
Fiquei bem feliz por não ter visto o setlist do show na Argentina, porque fui imensamente surpreendida quando Sea of love deu seus primeiros sinais. Começa tão doce Come with me, my love e então os aplausos e gritos apaixonados e agradecidos. Meu choro completamente incontido enquanto repetia em sussurros I wanna tell you how much I love you. Arrepiante. Mais aplausos, mais gritos. Qual seria a graça de saber que Cat Power iria nos presentear com essa canção?
Outra surpresa que vou ser eternamente grata: The Greatest seguida de Lived in Bars. Esse foi um daqueles momentos em que não acreditava que estava vivendo para ver aquilo. Não parecia real tamanha intensidade. Dejavu: Listeners know they’ve been hit by something but they’re not sure what. É exatamente isso.
Assiti a uma entrevista da Chan em que ela falava que queria cantar com a intensidade de Billie Holiday. Oh ceus, quanta modéstia! Don't explain, cover de sua ídola, é arrebatadora. Basta reparar no tom carregado de entrega e ressentimento quando canta I was so completely yours, e a firmeza e decisão do imperativo nos versos Don't explain, there is nothing within me now to gain reforçadas pelo peso do teclado. Sem falar do cha-cha-cha-chatter!
Angelitos Negros, a escolhida para o grand finale. Cantando em espanhol, a cantora nos proporciona talvez o momento mais intenso do show. Todos sabem que está prestes a acabar e a música vai te atingindo cada vez mais fundo.
Um espetáculo para os ouvidos e para os olhos. Chan Marshall existe, acreditem.
Ao fim de Angelitos Negros, você, aos poucos, vai sentindo sua respiração voltar. As luzes se acendem, a cantora continua ali com seus fãs, mas a realidade já se manifesta. Uma dificuldade ao inspirar e expirar. O show acabou.
Quando você não sabe muito bem porquê acorda todos os dias, a vida te dá um presente desses se redimindo por toda infelicidade que ela causa. E você a perdoa, sorrindo.

Ao som de: I lost someone - Cat Power

quarta-feira, 22 de julho de 2009

New York, New York

Como é bom rever seu filme preferido e lembrar porquê é o seu filme preferido. Hoje assisti mais uma vez a Manhattan e só acentuou minha paixão por ele.
Sempre penso por que as pessoas teimam em inventar, procurar problemas (de qualquer tipo) em certos intervalos de tempo. Caio F. acredita que é para se sentir vivo, a Fome com f maiúsculo. Coetzee diria que é por tédio, a felicidade cansa. Woody vai mais longe: criamos essas confusões para desviar nossa atenção das grandes e irresolúveis questões do ser humano-vida-morte-valores.
Eu acho que é um pouco de tudo.
Desde a primeira vez que assisti, escolhi umas cenas favoritas: a clássica em que a amante de Yale (Mary, personagem interpretada por Diane Keaton) e Isaac (Woody) estão sentados num banco e o dia está amanhecendo; a que Isaac e Tracy (Mariel Hemingway), sua namorada de apenas 17 anos, dão uma volta de carruagem e ele diz que ela é a resposta de Deus a Jó; e a conversa, na universidade, entre Isaac e Yale (Michael Murphy) que além de engraçada nos dá muita coisa para pensar: de um lado o polêmico Yale mostrando as contradições e imperfeições do homem, e do outro lado, Isaac, que acredita que o homem deve seguir certos padrões ideais de comportamento para poder conviver bem com si mesmo - ambos certos.
No entanto, outras cenas me marcaram dessa vez, como a conversa de Isaac com a ex esposa de Yale, Emily (Anne Byrne), quando o filme se aproxima do final, em que ele percebe que realmente gostava de Tracy e que nunca se permitiu envolver realmente com ela por causa da grande diferença de idade.
Outro momento especial é quando o personagem de Woody pega a gaita dada de presente por Tracy e se vê diante de lembranças, saudade e uma súbita coragem para seguir seus sentimentos e ir atrás da sua "criança de 17 anos".
O que me fez admirar ainda mais Tracy foi o modo como ela recebeu Isaac apesar de ele tê-la trocado por outra. E isso só confirma o que eu penso em relação a inutilidade de ser orgulhoso. Ela não o desdenhou, nem fingiu não sentir o que sentia - isso é orgulho, manter uma aparência, enquanto se corrói por dentro. A maturidade (da atitude e da auto estima) é tamanha que ela pôde ser sincera com seu interlocutor sem se sentir inferiorizada por isso. É admirável um comportamento assim. Tracy está a caminho de passar 6 meses em Londres e pede a Isaac para esperá-la, pois nem todas as pessoas foram corrompidas e ele devia ter um pouco mais de fé nelas.
É irônico se considerarmos a idade da menina que ainda está no segundo grau, Afinal, o que ela poderia saber sobre corrupção? Mas, ainda que o comentário seja ingênuo e ela nem imagine quantas decepções a esperam, se não tivermos essa esperança no ser humano, para que continuarmos vivendo, não é?

terça-feira, 21 de julho de 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

We're gonna ride

Eu ainda não tenho condições de escrever sobre o melhor show da minha vida, no qual desfrutei da melhor companhia possível: a minha hahaha.
Mas esse cara chegou bem perto do que foi:

Há umas duas décadas, todo estudante de violão costumava chatear os amigos dedilhando os primeiros acordes da balada folk House of the Rising Sun, um hino que ganhou o mundo em 1964 na voz de Eric Burdon, do grupo Animals.
Megaconhecida, hipertocada (Bob Dylan gravou, Dolly Parton gravou, Marcelo Nova gravou), foi justamente essa a canção escolhida pela diva indie Cat Power, nome de guerra da norte-americana Charlyn Marie ‘Chan'' Marshall, para abrir seu show na Via Funchal, na noite de sábado, às 22h19.
Era a senha de toda a ambição da cantora: na real, ela se ocupa de inventar novos atalhos para os nossos ouvidos, reavivando brasas de emoções batidas. Ilusionista de covers, crupiê de jukebox, a partir daí Cat Power passou então quase duas horas brincando de esconde-esconde com canções que pertenceram a Aretha Franklin, James Brown, John Fogerty, Kitty Wells, Joni Mitchell, Patsy Cline.
Praticamente às escuras, círculos de luz negra projetados no chão, casa lotada (mas uma plateia reverenciosamente silenciosa), o cenário estava cuidadosamente preparado para a conversão coletiva, que seria de arrepiar.
A cantora é hoje a contrapartida feminina de intérpretes viscerais como Leonard Cohen ou Jeff Buckley. Não conhece meias emoções, entra de cara e alma na espinha dorsal de cada música
. No tipo de arte que agarrou, há pouquíssima concorrência - ninguém tem aquele ronrom de gato na voz, raras conseguem ser tão delicadas e poderosas ao mesmo tempo, nenhuma consegue dominar uma banda como uma legítima bandleader do jeito que ela faz (talvez só Cassandra Wilson).
Houve diversos momentos celestiais no show de Cat Power, difícil destacar um apenas. Foi rascante o jeito que ela passou de Silver Stallion (que cantou cavalgando pelo palco) para New York New York, megahit de Frank Sinatra do qual ela ignorou o DNA e fabricou outra versão.
Passavam 10 minutos da meia-noite quando Cat se despediu, após cantar
o folk cucaracha Angelitos Negros. Ficou ainda mais 10 minutos no palco, distribuindo set lists para os fãs, abraçando, beijando mãos, fazendo reverências e batendo continência para a galera hipnotizada.

http://cultura.dgabc.com.br/default.asp?pt=secao&pg=detalhe&c=4&id=5755878&titulo=Cat+Power+hipnotiza+plateia

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Desencantamento

Ora, disse, a experiência não vale a pena. Não é algo que ocorra agradavelmente com um "eu" passivo - é uma parede contra qual um "eu" ativo se lança.

Isso é uma coisa que já tinha passado pela minha cabeça. De que vale a experiência? Somos pessoas muito mais infelizes acumulando tantas dores. Você nunca mais se apaixona e se entrega despreocupadamente a uma pessoa depois de ter sofrido por amor. Após a primeira grande decepção, sua fé no ser humano diminui drasticamente. Uma raiva intensa numa situação até passa, mas deixa sua marca ao gerar amargura no seu eu futuro. E não serve nem como aprendizado já que se lançar contra a parede uma vez não é garantia nenhuma de que não vá se lançar uma segunda, terceira, quarta... vez, mesmo carregando o fardo de um erro no passado.
Isso porque é da natureza humana a incoerência. O homem é incoerente a maior parte do tempo e em tudo que diz respeito a sentimentos ou valores morais. Duvide de pessoas hermeticamente convictas e intolerantes: quem julga dessa maneira é um mero espectador que só faz simplificar o abstrato, que desconsidera toda a complexidade do ser humano, reduzindo-o a frases desgastadas e por vezes não aplicáveis. Quando estamos dentro da situação, a teoria se confunde. O que era claro, se torna nebuloso, e perde-se as referências. Aprendi isso quando assisti a Uma mente brilhante: Convicção é um luxo para os que estão de fora.
Por isso talvez não aprendemos com os erros. O que aprendemos é alternar valores para justificar a sequência infindável desses erros, - e calar nossa consciência para conseguir seguir em frente -, afinal já dizia Garcia Marquez, moral é uma questão de tempo. Ou podemos reconhecer a própria falha, até nos arrepender, mas cientes de que isso não garante que não agiremos da mesma forma numa próxima vez.

A complexidade é muito sutil, muito variada; os valores se modificam a cada lesão de vitalidade, e chegamos à conclusão de que nada podemos aprender, do passado, que nos permita enfrentar o futuro.

Trechos: Os belos e os malditos (F. S. Fitzgerald)
Ao som de: Not fair - Lily Allen

quarta-feira, 15 de julho de 2009

a melhor definição de desejo

e também uma possível explicação sobre o amor (o seu fim), dentre tantas.

E isso me ensinou que não podemos ter nada, nada absolutamente. Porque o desejo nos engana. É como um raio de sol, passando daqui para ali dentro de uma sala. Pára e ilumina um objeto sem consequência, e nós, pobres tolos, tentamos agarrá-lo - quando o raio se move para outro lugar, temos o objeto, mas o brilho, o brilho que nos fez desejá-lo, desapareceu.
F. Scott Fitzgerald.

Ao som de: The Moon - Cat Power
ta chegando :)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Apatia

With a sky blue sky
This rotten time
Wouldn't seem so bad to me now
Oh, I didn't die
I should be satisfied
I survive
That's good enough for now

Sky blue Sky - Wilco

sábado, 11 de julho de 2009

uma declaração de amor

Cá estou para falar mais uma vez sobre Radiohead. Mas todo apaixonado é redundante então tenho no meu estado emocional a minha justificativa.
Pra falar tecnicamente sobre a banda, qualquer um o faz melhor que eu. O que se segue é uma declaração tão repleta de sentimentos quanto de particularidade.
Antes de Ok Computer, Radiohead era uma banda de rock. Uma banda de rock muito foda, mas era isso. Foi em 1997 com o lançamento de Ok Computer que os cinco conseguiram se destoar de tudo que havia sido feito e do que estava sendo feito e alcançaram fama mundial.
As composições desde então cientes de sua própria grandiosidade são em essência egoístas e egocêntricas. Elas não me permitem me ocupar com outras coisas. Enquanto as ouço, eu tenho que ser inteiramente delas - é o mínimo que exigem de mim por beirarem a perfeição. Se as obedeço, por vezes involuntariamente, elas deixam que eu me volte um pouquinho para mim mesma para buscar um rastro de identificação e aí se faz a perfeição de algumas específicas em épocas específicas. Poucas coisas são tão reconfortantes e emocionantes como o ato de se identificar com alguém, com alguma coisa.
Radiohead era pra mim um menino estranho que parecia ser legal - mas até aí existem muitas pessoas legais que eu não faço a menor questão de conhecer. Até que um amigo muito próximo a mim disse "conhece o cara que vale a pena". Segui o conselho, conheci. Simpatizei com o rapaz, mas não me apaixonei. Surgiu a oportunidade de sairmos juntos com um grupo grande de pessoas, o que não costuma me agradar, mas estava de bom humor e com boa vontade. No tal encontro, bastante impessoal, fui apenas como espectadora e me vi diante de algo extremamente grandioso, alguém que me impressionou de tal forma que qualquer outro menino me parecia inferior.
Enfim, cativada. E a paixão&amor surgiu pouquíssimo tempo depois num encontro íntimo.
Estou um "pouco" atrasada, confesso, mas posso me explicar. Em 1997 eu tinha apenas 9 anos e nos anos sucessores estive um tanto distraída. A demora foi compensada porque nosso sentimento é bem mais maduro e nossa relação, verdadeira. hehe
We are accidents
Waiting
Waiting to happen

(There there - Radiohead)

terça-feira, 7 de julho de 2009

"Cavalgar triunfante sobre todos os azares"


Assisti a um filme do Domingos (de?) Oliveira esses dias chamado Separações. Superficialmente trata de infidelidade, a necessidade de buscar outros corpos pra preencher nossas almas. E me pergunto, fidelidade é ou não uma utopia? É possível se sentir completo com apenas uma pessoa? Quando penso nisso, fico um tanto afligida. O futuro pode ser premeditado? O começo, a sensação de eternidade, então a traição - seja de que tipo for -, o desencanto, o fim, um recomeço e tudo novo de novo. Não há uma outra saída?

Nas palavras John A. Sanford embasada pela psicologia de Jung, a infidelidade tem relação direta com o desconhecimento do inconsciente. Quanto menos se sabe sobre vc mesmo, mais vc tende a procurar isso em outras pessoas, porcamente falando. Pelo fato de essas imagens de animus se projetarem, a mulher se sente dividida entre os dois homens, pois experimenta uma parte diferente de si mesma entrando em ação quando ela se relaciona com cada um dos dois homens.

Relembro os conselhos de Bill (Encontros e desencontros): quanto mais nos conhecemos, quanto mais sabemos o que queremos, menos deixamos as coisas nos abalarem. E coloco isso em relacionamentos, de uma maneira nada romântica: é necessário trabalhar em cima deles e em cima de si mesmo. Uma relação só pode dar certo quando as duas pessoas tem consciência e estão seguras do que elas são. As projeções que fazemos em cima das pessoas são sombras (positivas ou negativas) desconhecidas de nós mesmos. Se não temos essa ciência de que estamos exteriorizando algo interno e individual, a relação (abrangendo qualquer tipo de) se torna impossível: a pessoa que recebe uma imagem psíquica projetada por outra pessoa fica tendo força sobre essa pessoa, pois sempre que uma parte de nossa psique é percebida presente em outra pessoa essa outra pessoa passa a ter força e ascendência sobre nós (John A. Sanford). Que namoro/casamento suportaria um fardo desses?

Quando penso na fidelidade, logo me vem que isso é uma atitude natural de quem está plenamente satisfeito com a sua relação. Mas por quanto tempo? A fidelidade é tão natural como a atração por terceiros e o ciúme. Por isso Rubem Alves não apoia o casamento: assim se fazem os casamentos, com pedra, ferro, cimento e amor. Mas as coisas do amor não podem ser prometidas. Não posso prometer que, pelo resto da minha vida, sorrirei de alegria ao ouvir o seu nome. Não posso prometer que, pelo resto da minha vida, sentirei saudades na sua ausência.

Ou seja, a fidelidade não é uma utopia. Utopia é achar que tudo é para sempre - o que não significa necessariamente que uma relação tem que acabar um dia. A tendência (reforçando a palavra tendência) é que essas experiências sejam passageiras porque estamos sempre mudando. E o que interessa o castigo ou o prêmio? Tudo muda tanto que a pessoa que pecou na véspera já nãoé a mesma a ser punida no dia seguinte. Já dizia Lygia Fagundes Telles.

A que conclusão eu chego com tudo isso? Nem sei. Pensar em um futuro longíquo é perturbador até porque em maio vc faz planos pra julho e nesse meio tempo tudo pode acabar. Pensar que o fim está em qualquer esquina não é menos desolador - Mesmo aqueles em que a chama se apagou sonham em ouvir de alguém, um dia, as palavras que Heine escreveu para uma mulher: "Eu te amarei eternamente e ainda depois" (Rubem Alves). E viver o presente sem pensar no futuro me soa superficial.

Acho que a mim me resta me agarrar numa esperança romântica e ideal de que a fidelidade e um relacionamento "eterno" pode sim existir. É bastante cimento e tijolo, mas acredito que seja por aí: ser capaz de um amor real significa amadurecer, estimulando expectativas realistas em relação às outras pessoas. Significa aceitar a responsabilidade por nossa própria felicidade ou infelicidade, sem esperar que a outra pessoa nos faça felizes e sem censurá-la como se fosse responsável pelas nossas más disposições ou frustrações (John A.Sanford).

Mais bonito e poético é Cabral (retomando o Domingos (de?) Oliveira) se declarando pra Glorinha: A verdadeira liberdade de um homem não é seguir os seus impulsos, é seguir suas escolhas.

A escolha feita de ampla aceitação individual sem restrições ou condições e o amadurecimento da pessoa e do amor, ta aí uns ingredientes que podem funcionar.

Ao som de: Traffic Light - The ting tings

domingo, 5 de julho de 2009

ninguém vai rir

Atravessamos o presente de olhos vendados, mal podemos pressentir ou adivinhar aquilo que estamos vivendo. Só mais tarde, quando a venda é retirada e examinamos o passado, percebemos o que foi vivido, compreendendo o sentido do que se passou. Milan Kundera.

sábado, 4 de julho de 2009

"All that is left is an empty shell of my heart"

O segredo é ter coragem pra passar por aqueles mesmos lugares mais uma vez e então dar-lhes um novo valor. Não que esse novo valor vá apagar os velhos - esses vão continuar lá, mas de um jeito esquecido e não, sufocante. Evitá-los quase nunca adianta. Enfrentar, designar novos significados, isso é a real superação. Mesmo porque (tentar) acabar literalmente com as amarras de um passado é apenas fingir que algo não aconteceu, no entanto aconteceu e foi real e vai estar sempre ali pra te assombrar. Joel e Clementine são minhas provas. Aceitar que o que foi não volta, agora é só lembrança, e a maneira de encarar essa lembrança é que te tornam capaz de seguir em frente realmente.

Degenerescência cerebral, querida. Isso de se agarrar ao passado e começar como um rato, roque-roque, roendo as lembranças e se roendo. Lygia Fagundes Telles.

Ontem foi um dos melhores dias da minha vida.

All that is left is an empty shell
Of my heart that is crushed
I don't never wanna see
What my mind has seen
When you loved me
Every night every night alone with you
Every night alone now
When she sits on your lap
Try to pretend to laugh
When she does stupid things
Just like I used to do
Do not hate her
Don't you even try
For to leave her is to love her
The same as you and I
I love you
And I miss you too
I really do love you
And I really do miss you too
But I don't know you
And I don't need you
And I don't want you anymore anymore
Every night every night alone with you
Every night alone now

Empty Shell - Cat Power

Ao som de: After it all - Cat Power

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Extremos da paixão

Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida. Caio F.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Inconstância

estado: raiva

Hush now, don't explain
You're the cause of all my trouble and pain
Unless you're mad, don't explain
My love, my love, my love
Don't explain
There is nothing within me now to gain
You know that I love you
Look at what loving has done
All my thoughts were real and so sincere
I was so completely yours
You know I hear folks chatter
And I know you cheat
Right or wrong, that don't matter
You're here with me sit down, have a sit
It's your time to feel the pain
It's your time to weep
Don't explain
Hush now, don't explain
There is nothing within me now to gain
I'm gonna skip it instead
Don't explain, don't explain

Don't explain - Billie Holiday

Dejavu

A verdade com V maiúsculo diz respeito à vida antes da morte. Diz respeito a chegar aos 30 anos, ou talvez aos 50, sem querer dar um tiro na própria cabeça. Diz respeito à consciência - consciência de que o real e o essencial estão escondidos na obviedade ao nosso redor. (David Foster Wallace)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Does it get easier? No.


Tem gente que assisitiu a Encontros e Desencontros (Lost in translation ohoho) e se perguntou "mas que raios de história de amor é essa que ensaia pra espetáculo nenhum?". Eu chego a você que pensa assim e te pergunto: "meu querido, a que filme vc assistiu?".

O filme de Sofia Coppola é um encontro de solidões. Os protagonistas Bob Harris (Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson) estão perdidos. Ela, desempregada, casada há apenas dois anos e já não reconhece mais a pessoa com quem se casou, não sabe o que o destino reserva, mas não está muito otimista quanto a isso. Ele, bem mais velho, infeliz com seu casamento e com seu papel dispensável dentro dele, descontente com o rumo que sua vida profissional levou e não acredita que haja esperança. Vêem um no outro uma companhia e ao mesmo tempo um escapismo da vidalevadaquelevam. A atração acontece, mas é secundária. A relação que estabelecem ali é muito mais que um caso extra conjugal (até porque nem se consuma), é uma linda, intensa e sincera relação de amizade. E é por isso que é tão difícil partir. Partir, se separar, significa retomar a vida de antes com todos os desencantos e as duras doses de realidade.

E sim, as musas também sofrem pelo descaso dos homens. O papel vivido por Scarlett vê o marido se distanciando cada vez mais. É, não há esperança pra ninguém haha mentira.

You'll figure that out. I'm not worried about you. (...) You're a not hopeless. Para ela existe, segundo Bill.
E um conselho dele para todos: The more you know who you are and what you want, the less you let things upset you.


Minha dura dose de realidade diária: Para onde foi a imagem que me fez feliz, a imagem que morava nesse rosto? Agora, por mais que examinem, não conseguem encontrar sinais da sua presença. O rosto está opaco. Nesse mesmo rosto, agora, mora uma outra imagem, estranha, feita com materiais desumanos: pedra, gelo, fogo, deboche, alfinetes, areia. Contemplam o rosto conhecido e o desconhecem. Não encontram nele a imagem amada. O rosto dói: é o lugar da ausência da imagem que compunha a cena de felicidade que existia na alma "antes de haver o mundo". A cena de felicidade está rasgada. (Rubem Alves)